quinta-feira, 20 de agosto de 2020

consuetudinário

con.su.e.tu.di.ná.ri.o

kõswɛtudiˈnarju
adjetivo
1.
fundado no costume
2.
costumadohabitual
Do latim consuetudinarĭu-, «idem»

Lobolo (bride-wealth ou bride-price em inglês)

'' Lobolo (lovolo na grafia oficial changana) é a palavra local para designar o preço da noiva (bride-wealth ou bride-price em inglês), uma prática comum em sociedades patrilineares. O lobolo consiste numa cerimónia em que a linhagem feminina é ritual e economicamente recompensada para garantir a passagem da mulher e dos seus filhos para a família do marido. Sobre as práticas contemporâneas do lobolo em meio urbano.''

 Granjo (2005)

«velhos tempos» (os old days)

hibridismo

microssociológico

hegemonia

Etimologicamente, hegemonia deriva do grego eghestai, que significa «conduzir», «ser guia», «ser chefe», e do verbo eghemoneuo, que quer dizer «conduzir» e, por derivação, «ser chefe», «comandar», «dominar». Eghemonia, no grego antigo, era a designação para o comando supremo das forças armadas. Para Gramsci, a hegemonia caracteriza sobretudo a liderança cultural-ideológica de uma classe sobre as outras, embora possa referir-se à coerção, à dominação de um grupo sobre outro. Interessante é notar que a constituição de uma hegemonia é um processo historicamente longo, que pode (e deve) ser preparado por uma classe que lidera a constituição de um bloco histórico (ampla e durável aliança de classes e fracções). Não é, portanto, um sistema formal fechado, absolutamente homogéneo e articulado, mas, pelo contrário, um processo vivido de maneira contraditória, incompleta e até muitas vezes difusa.

concepções estáticas e reificadoras

visão eurocêntrica ou ocidentalista

visões modernistas e igualitárias


 Fotografia Rosa Nunes

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 

Publicação: Fundação António Quadros - Cultura e Pensamento http://www.fundacaoantonioquadros.pt/

02 – AMÁLIA RODRIGUES, 100 ANOS DEPOIS (E ANTÓNIO FERRO, 125 ANOS DEPOIS),
por Mafalda Ferro.


Cem anos depois do seu nascimento, e mais de vinte depois da morte, é revoltante continuar a ouvir discussões e teses sobre se Amália Rodrigues era de esquerda ou de direita, se o regime se aproveitou do seu êxito para fazer propaganda ou se ela se serviu do regime para se promover, se foi bem ou mal tratada depois do 25 de Abril, se pertencia à Pide ou se tinha sido injustamente denunciada à PIDE, acusada de pertencer ao partido comunista.


Tudo isto poderia ser importante se Amália tivesse sido uma activista política empenhada mas, sendo ela, sobretudo, uma intérprete, letrista e compositora musical de primeira grandeza, conhecida, amada e estimada por portugueses e estrangeiros, tudo o resto é ruído.

Na realidade, a sua única política foi levar Portugal aos quatro cantos do Mundo.


A particularidade mais cativante do estilo de Amália consiste em introduzir na melodia pequenos melismas que, não obstante a característica fadistal, nos trazem à ideia uma lembrança recôndita do canto cigano andaluz ou do peregrino canto mourisco.

Frederico de Freitas em «O Fado Canção da Cidade de Lisboa» (1973),
referido por António Pinto Machado, Cônsul-geral de Portugal em S. Francisco, na Califórnia,
a 25 de Março de 1978, na sua palestra «O Fado».


Todavia, como vivemos numa era em que quase todos sabem e falam de tudo, em que se especula sobre as atitudes e as intenções de quem mal se conhece, é bom lembrar, para além do seu talento, presença, reportório e amor ao seu país, a generosidade e sensibilidade, o sentido de gratidão e autenticidade da nossa maior fadista, bem como a forma recta e digna como desempenhou a sua extraordinária carreira. 

 

Mas, quando fizerem a minha história e eu já não for viva para dizer como foi, então, é que se vão fartar de inventar. Mesmo falado por mim, muita gente dirá que não é verdade, que os boatos é que são verdade. Uma pessoa é dona de si própria. Mas sei que a minha história vai ser aquela que escolherem, aquela que é a mais interessante, aquela que não é a minha.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.198,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.

O talento inato e espontâneo de Amália foi crescendo sempre mais para orgulho de todo um povo e, na opinião de quem escreve esta modesta contribuição, o que realmente a motivava era trabalhar em liberdade, cantar, agradar ao público, viajar e saber que podia sempre voltar para o seu cantinho, para o requinte e conforto da sua casa de São Bento, para a sua querida Lisboa, para os carapaus fritos e para os manjericos, rodeada pelos amigos que tanto a amaram e de quem mais gostava.

 

– O que pensa, Amália, quando lá fora, diante duma plateia cosmopolita, é alvo de tão grandes e tão espontâneas ovações?

Ela calou-se um momento e respondeu com um ar de profunda sinceridade:

– Penso que nada daquilo é comigo, que eu estou ali, sim, mas que não sou eu, que estou longe, muito longe, e que estou a cantar, a agradecer e a sorrir como se fosse outra pessoa, como se de qualquer modo estivesse a receber aplausos que não me eram destinados.

A sinceridade da sua voz comoveu-me. Aliás, Amália surpreende-me sempre. Um dia, tendo cortado os cabelos, que usava então pelos ombros, não pude esconder a minha pena e exclamei:

– Oh, Amália, os seus cabelos! Que pena!

Ela sorriu e perguntou-me:

– Estou horrível, não estou?

E acrescentou:

– E agora primeiro que cresçam... Sabe como lhes chamo? «Crime e Castigo»!

Fernanda de Castro, em Ao Fim da Memória, 1987.

 

Muito se tem falado sobre a relação profissional de António Ferro com Amália, se o facto de Ferro ter sido o primeiro a convidá-la e a contratá-la para cantar em França e Inglaterra significa que a usou em prol do antigo regime; a verdade, a simples verdade, é que António Ferro a apreciava, admirava o seu talento e lhe deu oportunidades de trabalho dentro e fora de Portugal.

António Ferro era, como se sabe, um extraordinário vedor de talentos – de artesãos, pintores e artistas gráficos, de poetas e escritores, de músicos e cantores – ajudando-os sempre que podia e lhes reconhecia o valor. Com Amália, não foi diferente. Reconheceu-lhe a voz desde menina e, mais tarde, a extensão do seu carisma e o animal de palco que era, a forma  como abrilhantava um espectáculo, um serão, um almoço ou qualquer outra iniciativa particular ou institucional.

Demonstrando essa admiração e apreço, António Ferro entregou-lhe em 1948 o Prémio S.N.I. para a Melhor Actriz do Ano pelo seu desempenho no filme «Fado, História de uma Cantadeira», longa-metragem realizada em 1947 por Perdigão Queiroga. Pela mesma razão, convidou-a a actuar em Lisboa, tanto em sua casa como em festas organizadas em espaços públicos.

Foi também a convite de António Ferro que, em 1949, actuou em Paris pela primeira vez e, posteriormente, em Londres, em festas do Departamento de Turismo e em Lisboa.

 

Primeiro fiz-me Amália Rodrigues em Portugal, depois do público português me ter feito em Portugal, fui a França. Depois, o público de França mandou-me para toda a parte do mundo. Quer dizer, sou uma artista universal mais por causa de França. Hoje há lá muitos portugueses. Quando lá estive pela primeira vez, não tinha ninguém português […]. É que, quando eu fui para Paris, tive a vitória completa porque foi o público francês que eu conquistei.

Amália Rodrigues em entrevista a Adelino Vaz,
publicada na Revista «Macau», n.º 26, Agosto de 1990.

 

Os convites de António Ferro foram muitos; no dia 21 de Novembro de 1951, por exemplo, o casal Ferro organizou a título pessoal, na sua casa de Lisboa, uma recepção de homenagem à cantora e actriz argentina Berta Singerman, convidando Amália a actuar. Estiveram também presentes, entre outros: Margarida Bello Ramos; Cármen Silva Graça; João Salinas Dias Monteiro; António de Meneses; Maria da Graça e Joaquim Paço d’Arcos; João Couto; Natércia Freire; Maria Teresa Silva Passos; Marie e Pierre Hourcade; Viscondes de Carnaxide; Francis Graça; Viscondes da Fonte Boa; Maria Isabel e Orlando Vitorino; J. e Odete Grasset; Sofia de Mello Breyner Andresen; Júlia de Mello Breyner; Maria Amélia Brandão de Carvalho; António Eça de Queiroz.

 

Como é que eles sabiam que eu era contra eles, quando aconteceu o 25 de Abril? Eles não sabem nada! Houve pessoas que tomaram conta dos jornais e de mim não se falava. Tomaram conta da rádio e os meus discos não tocavam. Na televisão eu não podia aparecer. Só o público, é que não conseguiram por contra mim.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.182,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.

 

Em 1949, fui cantar pela primeira vez a Paris e a Londres, levada pelo António Ferro. Sempre gostei do António Ferro, ele sempre me tratou bem, sempre disse que eu era boa artista, achava até que eu era inteligente. Escreveu um artigo no jornal, por volta de 1941, a dizer que estava ali uma rapariga com qualidade artística internacional. Mas o António Ferro não teve nenhuma importância na minha carreira.

Amália Rodrigues, em “Amália. Uma biografia”, p.100,
por Vítor Pavão dos Santos. Contexto, 1987.


Em Fevereiro de 1952, Amália cantou na Legação de Portugal em Berna, também a convite de António Ferro.

Meu querido amigo
Deu-me muita alegria a sua carta!
Irei com muito gosto fazer-lhe uma visita.
A altura do seu amável convite não podia ser melhor pois eu ando um bocado abatida com uma gripe fortíssima que tive e esses ares com certeza me fazem bem.
Já sabe que estou sempre de acordo com o que quiser mas simplesmente para meu governo, peço-lhe que me diga um mínimo com que posso contar.
Cá fico ansiosa por partir ao seu encontro e para lhe agradecer este e outros favores que lhe devo.
Abraça-o com muita ternura sua pequenina amiga Amália.

Carta de Amália Rodrigues para António Ferro, [s.d.],
PT/FAQ/AFC/01/0368/00005.

 

Ainda em Berna, talvez inspirado pela estadia de Amália, António Ferro termina a peça de teatro em três actos «Je ne sais pas danser», que gostaria de ter levado à cena com João Villaret e Amália Rodrigues nos principais papéis:

A personagem principal masculina [João Villaret] chama-se Carlos Pinto e é um crítico dramático bastante severo, conhecido pela sua probidade e selvageria, tímido ou distante nas suas maneiras e no seu convívio […]. A personagem principal feminina [Amália Rodrigues] é uma actriz de comédia acarinhada pelo snobismo nacional que nutre uma paixão por Carlos Pinto.

Em «Escritos e Actividades de António Ferro»,
acervo da Fundação António Quadros, PT/FAQ/AFC/04/00400

 

António Ferro partiu para Roma, sua derradeira morada, sem levar à cena a peça que, escrita em francês, nunca foi traduzida e, lamentavelmente, por ter estado em contacto com água durante um incêndio ocorrido em sua casa anos depois, o manuscrito de 49 páginas, está parcialmente ilegível.

Nos últimos anos, Amália já não passeava por Lisboa nem subia o Chiado como tanto gostara de fazer e poucas pessoas visitava. No entanto, continuou a frequentar a casa de Fernanda de Castro, enquanto pôde, chegando mesmo a oferecer-lhe um gira-discos e discos seus autografados para que, já acamada e com pouca visão, pudesse distrair-se.

 

Estou com febre!
Com febre e com muita pena de não poder estar ao pé de si!
Gosto tanto de si!
O Ary sabe… Ele também é como eu, seu admirador.
Parabéns e muita alegria!
Vou beber uma ginjinha à sua saúde!
Beijinhos grandes da sua
Amália.

Carta de Amália Rodrigues para Fernanda de Castro,
enviada num dia dos seus anos, a 8 de Dezembro, sem referência ao ano,
PT/FAQ/AFC/01/0368/00004.

 

A amizade e admiração entre Amália Rodrigues e o casal Ferro manteve-se igual até ao último dia de vida de António Ferro em Novembro de 1956, e de Fernanda de Castro em Dezembro de 1994.

 


Imagens da esquerda para a direita:

1: Reconhece-se Amália Rodrigues, António Ferro, Guilherme Pereira de Carvalho, Paulina Ferro, António Quadros e Augusto Cunha, [s.d.; s.l.]. Colecção Particular de Mafalda Ferro.

2: Reconhece-se António Ferro Amália Rodrigues, Tomás de Mello e Guilherme Pereira de Carvalho, [s.d.;s.l.]. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-002-0012-02754.

3: Reconhece-se João d'Ávila, João Perry, Edith Arvelos, Fernanda de Castro e Amália Rodrigues, durante o 1.º Festival do Algarve (1964) organizado por Fernanda de Castro. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-002-0001-02599.

04: Amália, em Fevereiro de 1952, na Legação de Portugal em Berna, a convite de António Ferro. Acervo Fundação António Quadros, PT-FAQ-AFC-06-001-00013.

05: Dedicatória Minha Senhora e minha Amiga – se eu soubesse que corria o risco de estes quasi versos lhe chegarem às mãos, – não os teria escrito. Embora sabendo da sua benevolência, tenho muita vergonha!... Um grande beijinho da sua Amáliaem «Amália gostava de ser quem era», 1980, disco LP, oferecido por Amália a Fernanda de CastroColecção Particular de António Roquette Ferro. Fotografia por Paulo Ribeiro Baptista.

06: Dedicatória Para o António Ferro que é o terceiro António Ferro que conheço. Do primeiro gostei muito e hei-de gostar de todos Eles. Beijinhos da Amália, em «O melhor de Amália, estranha forma de vida», 1985, disco LP oferecido por Amália a António Roquette Ferro. Colecção Particular de António Roquette Ferro. Fotografia por Paulo Ribeiro Baptista.

''magnificência dos socalcos''

 No Porto, no Centro Português de Fotografia, pode ser vista até 1 de novembro a exposição Mitos Adiados, de Carlos Cardoso (fotografia).

O texto de Maria do Carmo Serém, que apresenta a exposição: “as rochas milenárias, o granito do soco ibérico, o xisto do seu esmagamento tórrido. As lâminas do xisto desafiaram os homens e forjaram o destino da vinha, são a matriz do território. O fotógrafo mostra-nos o seu poder, nos caminhos, nos bloqueios, no chão das amendoeiras e das vinhas, mas também a matéria prima do seu aproveitamento direto e, aqui e ali, o fracasso da rocha frente à vegetação ou o signo da permanência na dependência do divino” ou, como no texto de apresentação também se escreve “este Douro construído, marcado e sofrido está condenado a ser um deslumbramento”.


 

impação

im.pa.ção 
ĩpɐˈsɐ̃w̃
nome feminino
1.
ato ou efeito de impar
2.
dificuldade ao respirar
3.
figurado altivezarrogânciasoberba

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

The Beach Boys [Pet Sounds] - Wouldn't It Be Nice

“sociedade da informação”

 O termo “sociedade da informação” ou “sociedade do conhecimento” ou “nova economia” surgiu no final do século XX, acompanhada com a globalização económica e cultural.

 Um dos primeiros a desenvolver o conceito de sociedade da informação foi o economista Fritz Machlup. 

Em 1933, Machlup começou estudando o efeito das patentes na pesquisa. Seu trabalho culminou no importante estudo “The production and distribution of knowledge in the United States” em 1962.

 Na Roma antiga, o trabalho era realizado pelos escravos. A Lex Aquilia 3 (284 a.c.) considerada o escravo como coisa.

 Etimologicamente, a palavra “trabalho” vem do latim tripalium, que se tratava de instrumento de tortura utilizado pelos agricultores para bater, rasgar e esfiapar o trigo, espiga de milho e linho.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo. Ed. Atlas. 28ª Ed. 2012, pp. 34-47 

  “Todo o sistema de produção capitalista repousa no fato de que o trabalhador vende e sua força de trabalho como mercadoria.”


 (MARX, 1985c, p.48)

'' Nas sociedades sem classes o homem estava organicamente ligado à natureza. Naquelas sociedades, a produção estava voltada apenas para a produção de valores de uso, ou seja, a satisfação das necessidades da comunidade. Na sociedade capitalista o objetivo passa a ser a produção de valores de troca, ou seja, a produção, a reprodução e a valorização do capital.''


 (SCHMIDT, 1976).

O Despertar do Funâmbulo


 Imagem
AMÉRICO RODRIGUES
O Despertar do Funâmbulo

CD audEo fds002

  1. Ainda
  2. Estilhaços
  3. Voz Sal
  4. De Va Gar Ar
  5. O Incerto Insecto Tu
  6. O Fio das Vozes
  7. À Espera de Quê Não Sei
  8. Um Barco de Pedra
  9. Longe do Gato Que Acto Seguinte
  10. Não
  11. O Fim Último
  12. Afflicção

Américo Rodrigues - voz, poesia sonora, flauta eunuca
José Oliveira - percussão
Rodrigo Pinheiro - piano
Gregg Moore - trombone, tuba
Élia Fernandes - harmónio, piano
Nuno Rebelo - guitarra eléctrica, electrónica
José Galissa - kora
Jean-François Lézé - percussões aquáticas, percussão
Patrick Brennan - saxofone alto
Nirankar Khalsa - flauta, percussão, assobios

Direitos reservados por Américo Rodrigues (SPA)
Gravado ao vivo, excepto «Estilhaços» que foi gravado em estúdio
Produção: Miguel Rainha
Masterização: Helder Brazete
Desenhos originais: Maria Lino
Tratamento de desenhos e grafismo: Sérgio Gamelas
Produção executiva: Luís Freixo

Agradecimentos: Catherine Daste, Élia Fernandes, Miguel Rainha, António José Silva/RUC, José Alberto Ferreira, Albrecht Loops, Sérgio Gamelas, Maria Lino, Galeria ZDB, Teatro Viriato, Enzo Minarelli, Philadelpho Menezes
Reservados todos os direitos do produtor fonográfico e do proprietário da obra gravada, sendo proibida a duplicação e a utilização não autorizada desta obra, no todo ou em parte.

ALL RIGHTS RESERVED
℗ & © SPA / AUDEO

''A história da poesia sonora divide-se entre quem usou a palavra na sua integridade (vejam-se os Futuristas italianos e os Dadaístas) e quem a violou, aniquilando-a e reduzindo-a a pura papa fonética (vejam-se os Futuristas russos e os Letristas, até aos produtos típicos da poesia sonora da era do pós guerra).
    Ora, o caso de Américo Rodrigues é, sem dúvida, interessante por múltiplas razões.
    Diga-se desde já que o seu trabalho se enquadra, sem dúvida, dentro do segundo filão. Mas há que ter muita atenção ao avaliar a fundo o seu esforço sonoro, porque é de facto um verdadeiro esforço. Basta ouvir os seus CDs e ver a sua performance para compreender que o seu é um verdadeiro esforço corporal.
    Não estamos perante exemplos de linguagem triturada, ele não tem necessidade de partir da linguagem, não precisa. Neste sentido podemos dizer que amplifica algumas intuições já tidas por Hugo Ball ou Raoul Hausmann, no início do século: o potencial é bucal. E, de facto, Américo Rodrigues mostra a musculatura da boca, todos os ruídos que o aparelho bucal pode fazer. É o próprio corpo que fala a sua linguagem primitiva, numa situação pré-babélica, onde o tudo e o nada se tocam. No seu caso a parte física da voz é o próprio corpo.
    A sua procura é canalizada para os extremos de um Jaap Blonk ou de um Nobuo Kubota e para o já feito por um Paul Dutton ou Valeri Scherstianoj. E, deste ponto de vista, está perfeitamente legitimada. É de notar que o seu trabalho tem uma ponta de agressividade que, em nosso entender, é necessária para desenvolver um forte impacto no ouvinte-espectador.
    Estamos, por fim, felizes que da terra lusitana, através de um trabalho raro de poesia sonora, tenha finalmente nascido um poeta semelhante que desdobra a poesia sonora, de um modo tão puro e tão original, sem suportes electrónicos (como era o caso da vídeo-poesia de Melo e Castro) e sem suportes visuais (como nas performances de Fernando Aguiar). Na verdade Américo Rodrigues entrega-se ao poder da sua garganta, sem truques nem enganos, para encantar, estontear e seduzir o público.

Enzo Minarelli


A poesia sonora de Américo Rodrigues se inscreve na linha da poesia fonética, cujas origens, situadas nas vanguardas históricas, estão sendo hoje revisitadas. A poesia fonética atentava para as particularidades sonoras que os fonemas possuíam e procurava criar com eles combinações sonoras que prescindiam da existência das palavras. Uma variação dela se deu no "grito ultraletrista" dos anos 50, em que as possibilidades do aparelho fonador eram exasperadas e levadas a extremos. A poesia de Américo Rodrigues se insere positivamente dentro dessa tradição, mas sua contribuição não é mera continuidade mecânica.
    Américo Rodrigues está primeiramente inventando a poesia portuguesa que, assim como no Brasil, graças ao concretismo, inexistiu no percurso da experimentação poética. E a sua invenção da poesia sonora portuguesa trás ao menos três características ricas que se interpenetram: a apropriação de um ruidismo tipicamente contemporâneo, ligado ao som da voz gritada no universo dos espectáculos de música de massas; a sensibilidade rítmica de trabalhos construídos sob influência de uma fala ibérica em que se combinam as línguas neolatinas com a pulsação da fala e do canto árabe e mourisco; a prática de trabalhar a poesia versificada como fonte de produção de poemas sonoramente experimentais. A poesia sonora portuguesa, assim, sob invenção e intervenção de Américo Rodrigues já se projecta como evento particularmente enérgico e vivo no ambiente da poesia sonora internacional.

Philadelpho Menezes

Dados da Porbase [Biblioteca Nacional de Portugal] > O despertar do funâmbulo (Registo sonoro) | PUBLICAÇÃO: (D.L. 2001) : Audeo Porto

Ligação externa > http://www.audeo.pt/fds002.html
CiberKiosk
Há pouco mais de um ano, a propósito de um espectáculo de Américo Rodrigues, expressei o voto de que a efémera experiência desse trabalho nos chegasse fixada e reprodutível num contemporâneo cd. ... Eis que se lança, finalmente, um registo gravado do seu trabalho, também o primeiro editado em Portugal nesta área. ... Mas nada de ilusões ou alarmes: o trabalho de Américo Rodrigues, recusando esgotar-se em fórmulas simples, continua a afirmar-se como trabalho poético, alquimia de cadências onde palavra e voz sempre se cruzam. ... Creio ser este o momento ideal para sublinhar o ganho expressivo que decorre das específicas circunstâncias de produção a que a poética sonora de Américo Rodrigues se submete, isto é, as que resultam da contaminada relação com as linguagens do palco e as da música, contaminação nunca enjeitada pelo autor. ... Em Portugal, Américo Rodrigues ocupa assim um lugar que bem pode e bem merece ser apontado como único. Sem reproduzir fórmulas, antes procurando sempre reinventá-las... ... É hora de ouvir o despertar do funâmbulo.
José Alberto Ferreira

Jornal de Letras
Organizador do Festival Ó da Guarda, um dos três actualmente dedicados em Portugal às músicas experimentais, responsável do grupo de teatro Aquilo e um particularmente activo animador cultural na edilidade da Guarda, Américo Rodrigues tem-se destacado também pela forma invulgar como associa a poesia fonética com o canto improvisado. Nesta estreia discográfica, quase só constituída por temas interpretados ao vivo, encontrámo-lo em diversos contextos instrumentais, proporcionados por músicos como Gregg Moore, Nuno Rebelo, José Galissa, Jean François Lézé e José Oliveira... ... A abrangência da opção é um dos (muitos) pontos fortes do trabalho, sempre balizado entre a visceralidade de um Phil Minton e a glossolália de Jaap Blonk. ...
Rui Eduardo Paes

No Man's Land
Mit Unterstützung verschiedener Musiker entführt uns Americo Rodrigues in seine Welt der Sound Poetry, die in der Tradition der italienischen und russischen Futuristen und der Dadaisten steht. Rodrigues gebraucht keine Texte in irgendeiner Sprache, er nutzt eine primitive Sprache wie in einer Nach-Babel-Situation, wobei er jedoch desöfteren die Sprachmelodien einzelner Sprachgruppen (arabisch, maurisch, iberisch,...) einfließen läßt. Ähnlich Jaap Blonk, Nobuo Kubota, Paul Dutton, Valeri Scherstianoj und Phil Minton lotet er die extremen Möglichkeiten der menschlichen Stimme aus.

O Interior
Metamorfoses vocais, improvisações musicais, materializações na e pela voz, inquietações poéticas, estilhaços sonoros. De tudo isto e de algo mais é feito o corajoso primeiro disco de poesia sonora editado em Portugal - «O Despertar do Funâmbulo». ... Américo revela-se um notável «intérprete de voz». O registo «O Despertar do Funâmbulo» é pois um corolário de intrincados jogos semânticos, de erupções viscerais de intensidade (dramática, até) no «sentir» e no «dizer» a poesia, de libertação da linguagem (e a «linguagem é um vírus», dizia a performer/cantora Laurie Anderson). A improvisação musical é apoiada por um naipe de inventivos músicos com os quais Américo tem colaborado nos últimos anos e que possuem o instinto certo de complementaridade com o trabalho do poeta. ...
Victor Afonso''

domingo, 16 de agosto de 2020

sábado, 15 de agosto de 2020

“Muitos dos que convivem diariamente com a violência assumem-na como uma parte intrínseca da condição humana. Não tem de ser assim.

A violência pode ser evitada. As culturas violentas podem ser mudadas. Os governos, as comunidades e os indivíduos podem fazer a diferença”.

Nelson Mandela In Prefácio do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (OMS, 2002)

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Salome Bey - Hit The Nail Right On The Head

Nova proxémica pós pandemia


Nova proxémica pós pandemia

''No ano de 1963, o antropólogo americano, Edward T. Hall, apresentou o estudo da Proxémica, que tem como proposta a organização dos limites de distâncias nas relações humanas. Tais noções de distanciamento sempre fizeram parte de nossa vida praticamente em todos os tempos da história humana, tanto no oriente quanto no ocidente. Mas, na década de 60, Edward T. Hall, por sua vez, divulgou seu estudo indicando 4 tipos de distâncias humanas: Íntima, Pessoal, Social e Pública.

Sua tese foi muito validada por outros estudos, tais como o da PNL (Programação Neurolinguística), e, ainda, em áreas comportamentais como a do Rapport, dentre outros temas. Mas, de um modo geral, a Proxémica foi facilmente reconhecida e praticada em todas as ações de nosso dia-a-dia.

No campo da neurolinguística, bem como nas relações afetivas (Rapport), a Proxémica fundamentou questões muito relevantes sobre a linguagem corporal, com base no conceito de que o nosso corpo diz mais sobre nossa personalidade aos nossos receptores do que as nossas palavras.

Vejamos abaixo as medições e as características sobre cada distância:

Distância Íntima: 15 a 45 centímetros, entre emissor e receptor. Muito comum entre casais e familiares.   Sobretudo, indica uma relação de confiança entre as pessoas que praticam tal aproximação.

Distância Pessoal: 45 a 120 centímetros (reuniões corporativas, negócios, festas, encontros entre amigos).

Distância Social: 120 a 360 centímetros. Esta é a distância que praticamos quando estamos caminhando, por exemplo, sobre uma calçada de rua entre outros pedestres, ou quando estamos parados, de pé, em uma fila de banco.

Distância Pública: acima de 360 centímetros. Geralmente, também é a distância praticada quando passeamos nas ruas, mas, também, é utilizada por palestrantes, professores, oradores, mestres de cerimônia. Acontece, ainda, em casos onde há um emissor ou mais, posicionado (s) para um grupo de receptores.

Em escala,  podemos qualificar a Proxémica da seguinte forma: distância íntima (casais e familiares), distância pessoal (amigos), distância social (conhecidos) e distância publica
(desconhecidos).

Com base nestes 4 tipos de distâncias, torna-se muito relevante termos consciência de tais espaços, para obtermos sucesso em nossos relacionamentos. Por exemplo, tanto nas relações familiares quanto nas profissionais, precisamos respeitar as distâncias entre nós e os nossos receptores. Esta consciência aplicada pode fazer muita diferença, em nossas relações.

No campo dos negócios, vendedores transitam entre todas as distâncias, podendo, ora se aproximar mais de seu cliente, outrora se distanciar. Mas, conforme vimos nos tópicos acima, a distância social é a mais adequada para as mais diversas situações de negócios.

Entretanto, existem serviços que são muito humanizados, e que necessitam um avanço na Proxémica. Desta forma, profissionais devem ficar atentos em suas abordagens e atendimentos. Especialistas do mercado de estética, por exemplo, que necessitam encostar em seus clientes durante suas atividades de atendimento, muitas vezes, os perdem, em processos que são, até mesmo, inconscientes. Por outro lado, os ganham quando aplicam com assertividade a Proxémica. Neste contexto, muitos salões de beleza, já orientaram suas equipes, através de diversos treinamentos, a sempre darem um curto intervalo de tempo, após um longo período de atividade que fora ininterrupta, tal como após um trabalho realizado nos cabelos ou na face de um cliente. A mesma estratégia já fora utilizada por profissionais de educação física, professores de aulas particulares, dentre outros segmentos.

Ainda no campo das negociações, - apenas o avanço no limite da distância mínima, pode gerar um mal-estar no cliente, e, assim, fazer com que o profissional perca o negócio, apenas por este detalhe neurolinguístico, relacionado à linguagem corporal.  Mas, novamente, em um caso contrário, um vendedor pode despertar bastante interesse em um cliente apenas por praticar um distanciamento estratégico.

A Proxémica está presente na vida humana, em muitos casos de maneira inconsciente.  Na atmosfera da distância pública, por exemplo, se caminhamos em uma rua, e alguém se aproxima demais, naturalmente, entramos em alerta (cérebro reptiliano). Isto acontece porque a pessoa ultrapassou o limite, do que era para ser uma distância pública, para uma distância social.

No campo da neurociência, podemos conjugar a Proxémica com o estudo do cérebro trino (emocional, racional e irracional). Nesta conjugação, é correto afirmar que as distâncias íntima e pessoal estão mais relacionadas ao nosso sistema límbico (emocional), através das nossas relações de confiança, com familiares, amigos e cônjuges.

Já, a distância social, que envolve lugares em que fazemos mais medições entre os espaço físicos que transitamos entre pessoas que conhecemos, está mais relacionada com o nosso neocórtex (racional).

Por fim, concluindo o cérebro o trino, o terceiro cérebro é o reptiliano, que, conforme no exemplo visto mais acima, se conjuga com os espaços existentes entre nós e pessoas desconhecidas em espaços públicos.

Historicamente, estes sempre foram os fundamentos do estudo da Proxémica, de forma cartesiana, com plena conjugação prática, na vida humana. Todavia, após a grande pandemia do Coronavírus, disseminada, quase em todo o planeta, no início do ano de 2020, é correto afirmar que diversos valores, crenças e hábitos serão ressignificados. Dentro dessas novas mudanças, inevitavelmente, a Proxémica também terá sua prática remodelada.

Com base nas orientações e prevenções de saúde emergentes da pandemia e de seu processo de quarentena, tais como o uso de máscaras e os processos de distanciamento e de isolamento social, naturalmente, estas novas demandas remexerão com a Proxémica humana, engendrando uma nova Proxémica pós pandemia..

Se analisarmos este embasamento pandêmico podemos prever que, no mínimo,  o espaço que antes era indicado, pelo estudo da Proxémica, como a distância publica, agora, começa a ser praticado como uma nova distancia social;  o que antes era indicado como a distância social agora torna-se a distância pessoal; e, por fim, o que antes era a distância pessoal agora tende a ser a distância íntima. Essa remodelagem ganha mais vigor nas relações entre jovens e idosos, ou entre pessoas que são consideradas grupos de risco, tais como, as que possuem doenças preexistentes, dentre outras.

No seio familiar, - onde mais praticamos as distâncias íntima e pessoal, tais modelos começam a ser reajustados. Espaços físicos maiores estão sendo mais praticados, entre nós, e os pequenos, evitados. Atualmente, quanto mais distantes fisicamente daqueles que amamos, mais consideração demonstramos psiquicamente.

Esta nova conceituação da Proxémica deve ser praticada, também, no campo social e profissional, bem como entre as distâncias social e pública, tanto quanto entre vendedores e clientes, e entre amigos e parentes, para que haja, entre todos, um reconhecimento sobre uma nova consciência a respeito do próximo, em um contexto geral.

É importante salientarmos que, certamente, pós-pandemia, nada será como antes, mas, embora estejamos mais distantes fisicamente, e a prática da Proxémica tenha alargado mais nossas distâncias típicas, estamos mais próximos psiquicamente, mediante tudo que estamos vivenciando com esta pandemia.

Sobretudo, mesmo com o estudo da Proxémica sendo uma referência muito útil em todas as atmosferas de nossas vidas (intima, pessoal, social e pública), o conceito de distância nunca foi tratado somente com um significado físico concreto, mas, sim, também, de forma psíquica e abstrata. Empiricamente, sabemos que podemos estar fisicamente ao lado de alguém, porém,   distantes psiquicamente, e vice-versa: distantes fisicamente e juntos psicologicamente.

Portanto, pratique uma nova Proxémica, de forma consciente e humanitária.''


2020

daniel@institutolascani.com.br
Jornalista. Publicitário (Estácio). Pós-graduado em Psicologia Analítica (PUC/Rio). Leader Coach, Life Coach e Business Coach do IBC - Instituto Brasileiro de Coaching. Coautor do Livro - O Impacto do Coaching no Dia a Dia. Apresentador dos canais BusTV e TV Max. Colunista e Consultor da Catho. Colaborador da Revista Psique (Brasil, editora Escala). Autor e Palestrante do projeto social - Comunidade Profissional; Diretor do Instituto Lascani.


insuficientíssimas acções

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

« A vida afectiva é a única que vale a pena.
A outra apenas serve para organizar na
consciência o processo da inutilidade de tudo.»

Miguel Torga,
Poeta e romancista

terça-feira, 4 de agosto de 2020

segunda-feira, 3 de agosto de 2020


''violência marialva''

«A história um dia fará justiça a esta geração de mulheres que criou o conceito de criança entre o fim da roda dos expostos (final século XIX) e o advento da pílula. E o que é mais espantoso é que elas iniciaram esta revolução mental contra a miséria, contra os elementos e, sobretudo, contra a cultura marialva dos maridos.»

Alentejo Prometido
 (da coleção Retratos da Fundação, editada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos). Henrique Raposo.

''educação darwinista''

de somenos importância
sem importância, sem valor

amanuense

escrevente

''A explicação do suicídio não é paisagística, é cultural.''

Alentejo Prometido (da coleção Retratos da Fundação, editada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos). Henrique Raposo.

«Mas porque é que os alentejanos se matam com tanta facilidade? Quando se faz esta pergunta, a maioria dos alentejanos (repito: alentejanos) invoca três respostas: solidão, pobreza e o duo paisagem/calor. Eu estava disponível para aceitar a validade das três hipóteses, mas nenhuma sobrevive à realidade. Não, a causa não é a solidão. As pessoas não se matam só porque estão sozinhas. Até há estudos que indicam que o suicídio aumenta nos períodos de maior contacto humano (meses de verão). O reencontro das famílias pode ser um fenómeno penoso. Neste caso, o reencontro traumático ocorre quando regressam à aldeia os irmãos que migraram para Lisboa; os irmãos que ficaram olham para os irmãos lisboetas e sentem que também podiam ter tido aquela roupa fina e aquela mulher decotada. A ascensão social pode ser dolorosa.

A causa não é a pobreza, porque muita gente bem na vida marca um encontro com a corda, a caçadeira, o veneno (605 forte) ou o poço. O tio Jacintinho, o grande detonador deste livro, vivia bem, era seareiro; no dia em que andei por Fornalhas e Vale de Santiago, matou-se um homem nos Foros da Casa Nova que tinha andado na escola com a minha mãe – vivia bem, fazia arroz. »


Alentejo Prometido (da coleção Retratos da Fundação, editada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos). Henrique Raposo .

Veneno suicida
Paratião-metilo (E-605 Forte)

Jacintinhos

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