sábado, 20 de janeiro de 2024



Assim Como Um Postal Para O Canadá
Canção de Sergio Godinho

Foi a sede, foi a neveE a falta de alguémQue me trouxe ao consoloDe quem o tem
Já vou, meu amor, eu já venhoSe o despertador tocarEstarei contigo ao jantar
Rapariga, mulher fácilDe compreenderTeu palácio onde a chuvaNão tem dizer
Já estou com o cabelo enxutoE a roupa a secar no fornoE os lábios num caldo morno
O correio hoje à tardeTrouxe um embrulhoAgitei-o para verSe fazia barulho
Abri-o e era um par de luvasE um metro de um bom riscadoEstou pronto para o noivado
Passa um carro a guincharDentro da cidadeSegue a multa por excessoDe velocidade
E eu aqui à janelaEsmagando as moscas de verãoCom o corpo a dizer que não
Telefonaste a dizerQue estás atrasadaFoi a sede que me fezVoltar para a estrada
Mas tudo o que quis dizerFica aqui no gravadorO medo, a alegria e a dor

Diário de um Pároco de Aldeia (1951)


 

Liberdade


Abaixo o pão, habitaçãoSaúde e educaçãoAbaixo o pão, habitaçãoSaúde e educação
Viemos com o peso do passado e da sementeEsperar tantos anos, torna tudo mais urgenteE a sede de uma espera só se estanca na torrenteE a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela caladaSó se pode querer tudo quando não se teve nadaSó quer a vida cheia quem teve a vida paradaSó quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sérioQuando houver
A paz, o pão, habitaçãoSaúde, educaçãoSó há liberdade a sério quando houverLiberdade de mudar e decidirQuando pertencer ao povo o que o povo produzirE quando pertencer ao povo o que o povo produzir
Viemos com o peso do passado e da sementeEsperar tantos anos, torna tudo mais urgenteE a sede de uma espera só se estanca na torrenteE a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela caladaSó se pode querer tudo quando não se teve nadaSó quer a vida cheia quem teve a vida paradaSó quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sérioQuando houver
A paz, o pão, habitação, saúde, educaçãoSó há liberdade a sério quando houverLiberdade de mudar e decidirQuando pertencer ao povo o que o povo produzirE quando pertencer ao povo o que o povo produzir
Viemos com o peso do passado e da sementeEsperar tantos anos, torna tudo mais urgenteE a sede de uma espera só se estanca na torrenteE a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela caladaSó se pode querer tudo quando não se teve nadaSó quer a vida cheia quem teve a vida paradaSó quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sérioQuando houver
A paz, o pão, habitação, saúde, educaçãoSó há liberdade a sério quando houverLiberdade de mudar e decidirQuando pertencer ao povo o que o povo produzirE quando pertencer ao povo o que o povo produzir
A paz, o pão, habitação, saúde, educação...

Sérgio Godinho

polemista


 

''país paupérrimo''

 https://www.dn.pt/opiniao/cavaco-e-a-sua-arte-de-nos-fazer-esquecer-como-governou-16980923.html/

cronistas políticos

 ''PSD hegemónico''

Pedro Mexia

xurreira

 ''Cavaco Silva está viciado no auto-elogio.''

Pedro Mexia

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024


 

"Eu contei pro papi que gosto muito de ser lambida, mas parece que ele nem me escutou, e se eu pudesse eu ficava muito tempo na minha caminha com as pernas abertas mas parece que não pode porque faz mal, e porque tem isso da hora. É só uma hora, quando é mais, a gente ganha mais dinheiro, mas não é todo mundo que tem tanto dinheiro assim pra lamber".

Trecho do livro O caderno rosa de Lori Lamby
 Escritora e poeta Hilda Hilst.


“Aflição de ser eu e não ser outra./ Aflição de não ser, amor, aquela/ Que muitas filhas te deu, casou donzela/ E à noite se prepara e se adivinha”, escreveu em 1959, no livro Roteiro do Silêncio.

Hilda Hilst


'' As coisas avançaram evidentemente, mas o fascismo está sempre a espreitar uma ocasião, um buraquinho, um sítio, um país, um ser humano. Está sempre ali para saltar em cima. Nós, portugueses e brasileiros, que já passamos por fascismos, sabemos que eles estão por aí. E, pior, agora estão por aí a olhar para nós com suásticas tatuadas nos braços.''

Entrevista, Maria Teresa Horta


Dora Maar, 1936 | Fotografia Man Ray 

 Minha Senhora de Mim, de 1971

Maria Teresa Horta

ardência

inflexão

Poetisa

''Eu gosto muito dessa palavra poetisa. Várias vezes os poetas e os críticos me disseram: 'Você é uma grande poeta'. E eu sempre disse que isso é mau português. Eu não sou um, sou uma. Faz toda a diferença.''

Maria Teresa Horta

“Os fascistas estão por aí com suásticas tatuadas a olhar para nós”

Maria Teresa Horta

O Processo de Joana D' Arc | Robert Bresson


 

King Crimson - Epitaph


The wall on which the prophets wroteIs cracking at the seamsUpon the instruments of deathThe sunlight brightly gleams
When every man is torn apartWith nightmares and with dreamsWill no one lay the laurel wreathWhen silence drowns the screams
Confusion will be my epitaphAs I crawl a cracked and broken pathIf we make it we can all sit back and laughBut I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be crying
Between the iron gates of fateThe seeds of time were sownAnd watered by the deeds of thoseWho know and who are known
Knowledge is a deadly friendIf no one sets the rulesThe fate of all mankind I seeIs in the hands of fools
The wall on which the prophets wroteIs cracking at the seamsUpon the instruments of deathThe sunlight brightly gleams
When every man is torn apartWith nightmares and with dreamsWill no one lay the laurel wreathWhen silence drowns the screams?
Confusion will be my epitaphAs I crawl a cracked and broken pathIf we make it we can all sit back and laughBut I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be crying
CryingCryingYes, I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be cryingYes, I fear tomorrow I'll be cryingCrying

''a pintura de estados de alma''

''Os Jogos da Fome''

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Claude Cahun // I am in training, don't kiss me, 1927


 

Exílio


Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia de Mello Breyner Andresen

Explicação do País de Abril

 aís de Abril é o sítio do poema.

Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.

                                                                                 Manuel Alegre

"Todos temos um lugar onde a vida se acerta." - José Luís Peixoto (in "Galveias")


 

Abril de sim, Abril de Não

 Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
 
Manuel Alegre

Abril


Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.

Era Abril.

Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.

Era Abril
que descia aos tropeções
pelas ladeiras da cidade.

Abril
tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.

Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.

Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um mês.

Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.

Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.

Era Abril que veio e que partiu.

Abril
a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.


José Fanha, Lisboa, Portugal
(Do livro "Tempo azul")

 Poema: A Cor da Liberdade


 
 
               Não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 
               Eu não posso senão ser
               desta terra em que nasci.
               Embora ao mundo pertença
               e sempre a verdade vença,
               qual será ser livre aqui,
               não hei-de morrer sem saber.
 
               Trocaram tudo em maldade,
               é quase um crime viver.
               Mas, embora encondam tudo
               e me queiram cego e mudo,
               não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 
Jorge de Sena    
(1919-1978)  

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

lirial

Double Portrait with Hat, 1936–37


 

 Reconhece-se sem ascendência,

sem descendência
e sem paciência para estes dias,
para esta televisão, para este jornalismo,
para esta classe média da democracia,
para este subsídio de Natal,
para esta indevida abundância,
para esta tanta ignorância.

Enfim, problemas de primeiro mundo,
e lembra-se do senhor Feynman
a explicar teoria quântica às prostitutas de Las Vegas.

Não sabe de física quântica,
sabe de corpos e de corações,
de axiomas, de princípios e de intenções,
sabe que até os monarcas obedecem ao corpo.

E pensa em faias, teixos e choupos
e que a verticalidade não é uma qualidade da carne.

Agora que a elasticidade das palavras
ultrapassa todas as figuras de estilo,
se lessem Tolstói e Dostoiévski,
seriam menos filisteus,
seriam menos embusteiros.

Mas gabam-se de fazer negócios da China,
sem conhecer Pequim,
saber uma palavra de mandarim,
saber quem foi Mao Tsé-Tung,
ter visto um dragão,
corpo de tigre, barbas de bode,
barbatanas de carpa e barriga de cobra,
diz a lenda que capaz de cuspir fogo,
convocar o vento, invocar a chuva e voar,
um dragão pode ficar tão grande quanto o céu
ou tão pequeno quanto a cabeça de um alfinete.

Se não tinhas, não vendias!
Pelo que não finjam que não sabem do que está a falar,
pois os ludibriados, como os amantes pretéritos,
guardam as mesmas más memórias.

Poema de Raquel Serejo Martins 

 Alla Venezia trionfante


Passava os dias no café mais antigo do mundo,
sucessor de Goethe, de Casanova, de Proust,
no Verão ainda era menino para pedir um sorvete.

Passava os dias a ver passar pedreiros e outros artistas,
as floristas abriam pontualmente as lojas,
o barulho das portas, das persianas,
das janelas, das varandas, dos sinos,
os bandos de pombos na praça,
às vezes gaivotas,
a melodia dos cheiros, das águas,
e comovia-se com esta azáfama diária.

Porém a falência das floristas,
a decadência da cortesia,
a vulgaridade da violência
e a invulgaridade da ternura,
sabe como o sexo é fácil e o amor difícil,
e talvez essa seja a razão mor da sua tristura.

Flaubert dizia que a tristeza é um vício,
sabe o que é um vício,
como ao Campos, “a vida sabe-lhe a tabaco louro,
nunca fez mais do que fumar a vida”,
sabe que só os poetas levam o mundo a sério
e só lamenta as palavras de amor que nunca disse.

Passava os dias no café mais antigo do mundo,
viu crescer o trânsito de gôndolas e vaporettos
até que os turistas começaram a fotografar sem tréguas,
viu até que deixou de se confundir com a cidade.

Agora lagarto ao sol apesar das novas nuvens,
consta que se retirou para um T1 em Balmoral,
já ninguém sabe a sua idade,
ouvem-se rumores sobre a sua sanidade
e raramente é visto fora dos limites da sua propriedade.

Raquel Serejo Martins

''modos vienenses''

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Corvo-marinho


Marianna Rothen

 

''mar sagrado''

 «Hoje temos muito que dizer, muito que comunicar, porque somos alguém. Perdemos o hábito quer do silêncio, que de nos calarmos. »

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 112

 Rosa - ó pura contradição ! -
prazer de não ser sono de ninguém
sob tantas pálpebras.

Noite feita de rosas. Noite feita de muitas, muitas
rosas claras, noite luminosa feita de rosas,
sono de mil rosas, sou o teu adormecido.
Iluminado adormecido dos teus perfumes; profundo
adormecido das tuas frias intimidades.

(...)

Rilke

roseiam

 «As rosas são recatadas. Nisso consiste a sua magnificência. As rosas roseiam. O seu verbo é rosear.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 111

 «A hortênsia sargentiana rompe pela primeira vez em botões. Esteve doente durante dois anos. Eu ocupei-me amorosamente dela. E ela corresponde agora ao meu amor.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 110


 Fanny Fournier, Galore, de Candy

by Marianna Rothen 

Lírio-de-água

 Exausto da viagem...
em lugar de buscar uma morada...
aí, as glicínias!

Matsuo Bashō

 ''saudações floristas enviadas do meu jardim''

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 106

«As inumeráveis flores da giesta, com o seu brilho amarelo, iluminam a noite e enchem-me de felicidade.»

 Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 107

Lagartas de roseira


 

Romance De Um Dia Na Estrada



Andava já há vinte dias
Ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco, outro forte
Que o dia em que se não come
É um dia a menos para a morte
Um dia fraco, outro forte

Quando um barulho de cama
A voltar-se de impaciente
Me fez parar de repente
Era noite e o casarão
Não tinhas lados nem frente
Dentro havia luz e pão
Me fez parar de repente

Ó da casa, abram-me a porta
Fiz as luzes se apagarem
Cheguei-me mais à janela
Vi acender-se uma vela
Passos de mulher andarem
E uma mulher muito bela
Chegou-se mais à janela

Não tenhas medo, eu não trago
Nem ódio nem espingardas
Trago paz numa viola
Quase que não fui à escola
Mas aprendi nas estradas
O amor que te consola
Trago paz numa viola

Meu marido foi pra longe
Tomar conta das herdades
Ela disse "Companheiro"
Eu disse "Vem", ela "Tu primeiro"
"Tu que me falas de estradas"
"E eu só conheço um carreiro"
Ela disse "Companheiro"

A contas com a nossa noite
Afundados num colchão
Entre arcas e um reposteiro
Descobrimos um vulcão
Era o mês de Fevereiro
E o Inverno se fez Verão
Descobrimos um vulcão

E eu que falava de estradas
E só conhecia atalhos
E ela a mostrar-me caminhos
Entre chaminés e orvalhos
Pela manhã, sem agasalhos
Voltei a rumos sozinhos
E ela a mostrar-me caminhos

Andarei mais vinte dias
ao frio, ao vento e à fome
Às escondidas da sorte
Um dia fraco, outro forte
Que o dia em que se não come
É um dia a menos para a morte
Um dia fraco, outro forte
Um dia fraco, outro forte

inescrutável

 


«O meu candidato favorito, Ahn Cheol-soo, não é capaz de rugir. Mas é capaz de refletir.»

 Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 104

Rosa Japonesa

 ''Rosa, ó pura contradição, prazer.''

Lápide de Rilke


                         Chinatown: Directed by Roman Polanski. With Jack Nicholson, Faye Dunaway

''vermelho purpúreo''

''beleza enfermiça''



 «Da macieira sem folhas pendia ainda uma maçã enrugada.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 93

 ''A dor tornou-me permeável e vulnerável.''

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 84

''Hoje o tempo foi totalizado como tempo laboral.''

 Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 82

 



Marianna Rothen



 

 «A deusa Hera, que nasceu debaixo de um agnocasto, copulava uma vez por ano com Zeus. A seguir, quando se banhava no rio Imbraso, a sua virgindade renovava-se.


Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 80

festivamente

flor olhos-negros ou olho-de-vénus

 «Floresce também a rosa azul chamada Novalis. O azul é a cor do romantismo.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 79

 « Floresce o hibisco azul. O hibisco é a flor nacional da Coreia.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 79

 « No meio, no outono, floresciam cosmos. Do lado direito, havia uma madressilva num grande vaso. Morreu, deixando-me abandonado pelo amor. Então também os relógios pararam. A dor foi muito grande.»

Byung-Chul Han. Louvor da Terra. Tradução de Miguel Serras Pereira. Relógio D' Água. 2020., p. 79

domingo, 14 de janeiro de 2024

Eu Vou A Jogo



Olha, bons olhos te vejamEstavas desaparecidaVinda do fundo da interfaceEncontrei-te na avenida
Tens uma nuvem no olharE na boca mal sorrisoSe foste causa, foste consequênciaCorre atrás do prejuízo
Mas que saibas que não recuperasAs esferas que lançaste em forçaEm volta do egoEu vou a jogo
Olha se trago uma nuvemÉ para a descarregarGosto sempre de correr perigosQuando o tempo vai mudar
E ao contrário do que tu pensasO meu clima está melhorEu vou a jogo
Está-me a saber pela vidaEncontrar vida em redorEu vou a jogo
Bem já sabes que não recuperasAs esferas que lançaste em forçaEm volta do egoEu vou a jogo
Às cegas carregas o fogoNunca apagas o que vai a jogoÀs cegas em ti carregasSons e cores do fogoNunca apagas o que vai a jogo
Já que eu encontrei vida em redorFala agora tu de tiEu vou alterando-me eu mesmoVivendo o que já vivi
E nos intervalos do poucoDou de tudo e vai da vidaEu vou a jogoCaia o precipício mais longoApanho vento de subidaEu vou a jogo
E digo-me sei que me não recuperasAs esferas que lançaste em forçaA sorte enjeita em volta do egoEu vou a jogo
Às cegas carregas o fogoNunca apagas o que vai a jogoÀs cegas em ti carregasSons e cores do fogoNunca apagas o que vai a jogo
Não sei como tudo acabouSem sequer ter começadoSó sei que às vezes terminaO lençol cheira a lavado
Num hotel da próxima esquinaAli era tudo gente finaDois corpos por metro quadradoQuarto pago adiantadoPor um lençol enrodilhado
Não há muito mais a contarNeste conto de um instanteOlhe depois eram dois cafésO meu é com adocicante
Mas iam os dois já voltarA cada qual de autorretratoEu vou a jogoHá eterna casa de partidasToda a vida tão baratoEu vou a jogo
Há eterna casa de partidasToda a vida tão baratoEu vou a jogoHá eterna casa de partidasToda a vida tão barato
Eu vou a jogoEu vou a jogoEu vou a jogoEu vou a jogo

''manifestos existenciais''



“Só gosto das pessoas boas / quero lá saber que sejam inteligentes artistas sexy / sei lá o quê / se não são boas pessoas / não prestam”.

Adília Lopes

  “O prazer do texto sim / o frete do texto não”

Adília Lopes

“Décadas a passar mal / e de repente o Sol / como diamantes / Estou bem / depois de estar mal.” 

Adília Lopes

Adília Lopes | Poetisa portuguesa


 

Sérgio Godinho - Mútuo Consentimento



Pareceu-me uma aparição de tiMas era já tão tardeE hoje ninguém háAgitar a minha solidãoPra dar corda ao brinquedoAgora ainda era cedo
A verdade é que ontem nem te mentiE tu nem precisasteDe saber quem amasteNão me fugiste nem eu te fugiFoi amor de um momentoMútuo consentimentoMútuo consentimento
Pareceu-me uma desaparição de ti


SABES POR VEZES QUERIA BEIJAR-TE
Sabes por vezes queria beijar-te. Sei que consentirias.
Mas se nos tivéssemos dado um ao outro ter-nos-íamos separado porque os beijos apagam o desejo quando consentidos.
Foi melhor sabermos quanto nos queríamos, sem ousarmos sequer tocar nossos corpos.
Hoje tenho pena. Parto com essa ferida.
Tenho pena de não ter percorrido teu corpo como percorro mapas, com os dedos teria viajado em ti do pescoço às mãos da boca
ao sexo.
Tenho pena de nunca ter murmurado teu nome no escuro.
Acordado perto de ti.
As noites teriam sido de ouro e as mãos teriam guardado o sabor do teu corpo.
Al Berto

''olhar presentista do século XXI''

 Luís Pedro Nunes

 ''Picasso era um génio e um monstro - podem ser separados?''

Claire Dederer

 «Todo o santo dia bateram à porta. não abri, não me apetece ver pessoas, ninguém. Escrevi muito, de tarde e pela noite dentro. Curiosamente, hoje, ouve-se o mar como se estivesse dentro de casa. o vento deve estar de feição. a ressonância das vagas contra os rochedos sobressalta-me. Desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela. Sou um homem privilegiado, ouço o mar ao entardecer. que mais posso desejar? E no entanto, não estou alegre nem apaixonado. Nem me parece que esteja feliz. Escrevo com um único fim: salvar o dia.»

Al Berto

sábado, 13 de janeiro de 2024

 ''Prova do algodão socrático''

José Miguel Tavares, Cronista

 ''Ministro do erra mas faz''

Humorista, Ricardo Araújo Pereira

''Imagining A World Without Men''



                                                         Marianna Rothen, Women Of Canterbury
 

''O lobo morreu''

Lírio-sapo-japonês

Trevo-branco

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Lei da saia curta

GABA – ácido γ-aminobutírico – C4H9NO2
Neurotransmissor da Calma.

soma aditiva das cores

RGB (Cores-luz)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Black Hearted Love

Willy Ronis | Mannequins, 1948






 

'' uma  colher de chá de liberais ferrenhos''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 95

 «quando ouço falar dos bombardeamentos, vejo a cabeça de uma freira morta»

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 93

abarbatar

Blues Subterrâneos da Saudade

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 91

 «... a propósito, tinha-te dito para enviares os lenços a dizer « eu dou um baile aos beatles»

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 90

dexedrina

'' uns quantos bebés desfavorecidos encharcados em dexedrina''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 89

« (...) - vai a mais a uma consulta com o Freud « só os ricos é que podem pagar-lhe» diz ele « só os ricos é que podem pagar pela arte - não será assim?» « não terá sido sempre assim?» 

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 89

O Cabral Fugiu para Espanha


Ele que só nos trouxe aMaior miséria encontra-se a pagarA sua vilania num exílio vergonhosoEm terra de EspanhaProvou-se que o povo tinha razão eProvou-se também que a unidade deTodos os cidadãos há-de levar de vencidaEssa corte corrupta e indignaTemos de exigir medidas revolucionárias aoNosso governo não podemosPermitir que o Duque dePalmela, o nosso ministro, continueNas mesmas águas turvas do CostaCabral se não éCapaz de tomar medidas que sirvam o povoQue vá para lá outro
Aprende Rainha aprende mede bem o teu poderTu dum lado o povo d'outroQual dos dois há-de vencer
O Cabral fugiu p'ra EspanhaCom uma carga de sardinhaCom a pressa que levavaNem disse adeus à Rainha
Viva a Maria da FonteVe com esporas de prata a cavalo na RainhaCom o Saldanha á arreata
O Cabral queria ser reiA mulher quer ser rainhaForam-se os Cabrais emboraSó ficou a Luisinha
O Cabral fugiu para EspanhaJá lá vai para a GalizaCom a pressa que levavaNem disse adeus à Luisa

Keep a Fire Burning

 ''Onde não há esperançacabe a nós inventá-la. ''

Albert Camus

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

''É melhor rasgar cada fibra, deixe a fúria fluir. desatado, o sangue molhando, vívida, o sofá, o tapete, o chão enquanto o calendário em forma de cobra Jura-me que estás a um milhão de condados verdes daqui. Melhor isso do que ficar aqui sentada, muda. convulsionando assim sob as estrelas espinhosas com o olhar perdido, com maldições. que enegrecem os momentos em que se pronunciaram os adeuses, em que os comboios partiram arrancando-me a mim, grande tola magnânima, do meu único reino.''

 Sylvia Plath, Monólogo às 3 da manhã

domingo, 7 de janeiro de 2024

Powered By Blogger