«Ali sentado na areia a meditar nesse outro mundo antigo e desconhecido, imaginei o espanto de Gatsbt, quando, pela primeira vez, identificou a luz verde que brilhava na ponta do molhe da Daisy. Tinha vindo de longe para chegar a este relvado azul, e o sonho deve-lhe ter parecido tão próximo que só dificilmente poderia escapar ao seu abraço. Não sabia que o sonho era já uma coisa do passado, atrás dele, perdido algures na vasta obscuridade para além do clarão da cidade, onde os vastos planos da República se desenrolavam sem fim sob o céu estrelado.
O Gatsby acreditara na luz verde, no orgíaco futuro, que, ano após ano, foge e recua diante de nós, Se hoje nos iludiu, pouco importa: amanhã correremos mais depressa, alongaremos mais os braços...Até que uma bela manhã...
Assim vamos teimando, proas contra a corrente, incessantemente cortando as águas, a caminho do passado que não volta.»
F. Scott Fitzgerald. O Grande Gatsby. Prefácio e tradução de José Rodrigues Miguéis, 2.ª edição, Lisboa, 1986, p. 171/2