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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Leonce - Oh, meu caro Valério! Não poderia eu também dizer: "Isto é uma floresta de moitas de plumas, com algumas rosas bem cheias, junto a meus pés..." Acho que eu o disse bem melancolicamente. Graças a Deus! Começo a descer junto com a melancolia. O ar já não está tão claro e frio, o céu desce sobre mim brilhando e caem pesadas gotas de chuva. Oh, esta voz: "Será tão longo o caminho?" Muitas vozes falam nesse mundo e nós pensamos que falam de outras coisas. Mas esta voz, eu a compreendi. Descansa sobre mim como o espírito, já que este pairava sobre as águas antes de ser feita a luz. Que fermentação nas profundezas, como se fazem as coisas dentro de mim, como a voz se derrama pelo espaço! Será tão longo o caminho? (Sai.)

Leonce - Pois seja. (Deita-se no gramado.) Impediste meu mais belo suicídio! Em toda minha vida jamais tornarei a encontrar momento tão adequado. E um clima tão excelente. Agora, já me passou a vontade. Com teu colete amarelo e tuas calças azul-celeste, estragastes tudo. Que o céu me conceda um sono bem sadio e pesado
 
 
Georg Büchner.Woyzeck e Leonce e Lena. Trad. De João Marschner. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

a própria identidade se perde

Peter  - Quem sois?
Valério - Será que sei? (Vagarosamente, retira várias máscaras. uma após outra.) Sou esse? Ou este? Na realidade tenho medo de poder descascar-me ou desfolhar-me assim.


 Georg Büchner.Woyzeck e Leonce e Lena. Trad. De João Marschner. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
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