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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sobre o sector da vida literária

« - Estou pouco ao corrente do que se passa neste sector da vida literária. Mas a avaliar pelas montras dos livreiros e pelos anúncios, temos messe grada. Suponho que há duas ilusões a considerar às espaldas desta actividade: que seja rendosa e que seja tarefa fácil


Aquilino Ribeiro in Teorias do autor acerca da literatura infantil e dos seus dois livros neste género - inquérito. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 171
«Os contos de fadas, a meu ver, representam um perigo, neste nosso mundo de hoje, tão realista. Prefiro predispor as crianças para a vida da luta que para o sonho e a idealidade abstracta, sem ramo em que a ave azul ponha o pé.»



Aquilino Ribeiro in Teorias do autor acerca da literatura infantil e dos seus dois livros neste género - inquérito. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 171




*Acho que uma mulher deve acalentar ser mãe, tomando para si, primeiro, estes ensinamentos da vida. Conhecer o seu sangue, antes de o fazer germinar em corpo que não se torna árvore, ou sequer, animal consciente.

Quando escreve para crianças, tem a preocupação da idade delas?

« (...) Se escrevêssemos apenas as palavras que a criança emprega e de que sabe o significado, medíocre seria o nosso modo de expressão. A leitura duma página é um aprendizado. A criança vai-se recreando e aprendendo. Uma palavra que ignora, desde que pertença, bem entendido, ao nosso glossário quotidiano, é um obstáculo que vence penetrando-lhe o sentido por intuição natural.»


Aquilino Ribeiro in Teorias do autor acerca da literatura infantil e dos seus dois livros neste género - inquérito. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 169
« (...) O podre sendeiro estava escondido num giestal, a arfar, coberto de sangue, dizendo cobras e lagartos da sua má sorte.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 140/1
« - Ouça o conselho duma tola e aceite se bem achar. A água não é muita; são duas odradas, se tanto. Se nós a bebêssemos?! Tirávamos, depois, o queijo a seco...


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 136

« - Então isso é que é a peste, sua grande saca de mentiras?
   -Foi um anjo que me viu a morrer e me trouxe esta hostiazinha...
   -Também quero...
   -Se tens o coração puro, come...Mas vê lá!
   A Patifina pôs-se, sem vergonha, a manducar e, enquanto enchia o fole, reparou nos montes de ossos que havia pelos cantos, ossos velhos, brancos como a cal, ossos ainda vermelhos de sangue, ossos mal esburgados, tantos que parecia haver ali a indústria de cabos de faca e canivete. (...)»


 
Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 131/2

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Não comia a eito as espigas

«Não comia a eito as espigas, não; apenas aquelas que mais gradas se mostrassem; também não as comia vestidas como se vêem na haste, mas depois de as descamisar, operação em que era mais hábil e mais ligeira que as raparigas nas esfolhadas. E voltava sempre a lamber o beiço, que gostoso para ela como o milho em verde nem ginjas, uvas maduras, ou passas caídas ao chão das cerejeiras.»



Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 120
«-Ora lá vem esta minha princesa com as suas birras. Sempre queria saber que mal lhe fiz eu?
-A mim, nenhum; mas o traste que você é, sabe-o este mundo e o outro.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 114

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

«Entardecia. O sol tombava por trás dos cabeços, e era como rosa amarela a emurchecer depois duma batalha de flores.



Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 97

Se queres, ensino-te...

«-Ná, ná, que vossemecê faz-me alguma das suas...
-Ó filho, varre-me tão negras ideias do entendimento. Não faço mal a uma mosca. Tomara eu que me deixassem!


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 95
«Mas não há bem que sempre dure e tristemente acabou aquela fartura de sangue morno e carne fresca a palpitar.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 88

VI

«Estava a romper o dia. A névoa que pousava sobre a ribeira esfarrapava-se, e pela planície iam flutuando fiapos, brancos e mansos como gansos a voejar à flor dum lago. Já se ouvia o canto madrugador da cotovia, mas no céu, para bandas do Norte, faiscava ainda a estrela da manhã, como dália de oiro num açafate de prata.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 77

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

«Mas agora, sob as torturas da sede, até as próprias recordações lhe pesavam.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 60

o lobo postou-se de sentinela. «À certa - malucava ele - que a raposa também há-de vir à fonte, que à sede ninguém resiste.»

«Uma tarde o sol foi tão abrasador que a raposinha, cheia de aflição, deitou a correr a um colmeal a molhar a boca no mel. Tombou um cortiço, porém as abelhas deram sobre ela feras e encarniçadas. E o que lhe valeu foi atirar-se ao chão e rebolar-se, rebolar-se muitas vezes até esmagar umas, amachucar outras, cansá-las a todas. Voltou, depois, ao cortiço; saíram novas abelhas a acometê-la. E, segunda, terceira vez, se rojou pelo solo. Ao cabo de alguns ataques e contra-ataques, pôde finalmente chupar os favos em paz, que o enxame perdera a ralé, destroçado. Lambendo o mel, que lhe soube como a melhor canja, notou quanto era grosso e pegajento; e, notando quanto era grosso e pegajento, a ideia do ardil providencial nasceu em sua alma sequiosa. (...)»



Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 52/3
« - Fazeis-me pena, ó bichos destas falperras! Fazeis-me pena e por isso quero falar-vos a verdade verdadeira. Se o lobo é lobo, eu sou urso e neste mundo apenas tenho medo do húngaro e de mais ninguém. A Salta-Pocinhas foi trapaceira? Foi, que enganou o lobo. A Salta-Pocinhas foi lambisqueira? Foi, que bifou a fressura ao lobo. A Salta-Pocinhas assassinou? Alto aí. Quem assassinou o teixugo foi o lobo, que tem mais de bruto que de astuto, e é por igual grotesco e barbaresco, pirata e patarata, caprichoso e maldoso. Arrancai a língua à raposa, o coração e os miolos ao lobo, frigi tudo e deitai-o aos cães se quereis viver em paz.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 47
« - Morra e esfole-se quem é a vergonha da nossa raça!»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 47
« - Ó meu rico senhor, tenha dó! Ando mirradinha de fome! Já nem me recorda que engolisse um escravelhinho...
     O bicho não respondeu; mas, sempre à espreita, viu-lhe a Salta-Pocinhas abrir as pálpebras, sacudir as orelhas, soprar, fungar, coriscar lume das pupilas verdes, dando em tudo sinal de incomodado. E renovou a cantilena:
-Ó meu rico senhor!
-Qual rico senhor, nem qual diabo! - regougou afinal D. Salamurdo. - Não tenho nada que dar, mas, tivesse eu galinhas ou patas aos montes, sob pena de para aí apodrecerem, não eram para você que vem empestar-me a casa. Apre, quando tiver de pedir esmola a portas de certa teoria, lave-se primeiro, trate de desencardir-se da catinga, que fede à légua!» 



Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 29/30

Salta-Pocinhas

«Cheirando aqui um provável rasto, furando além por uma brenha, por muito breve que fairasse, por mais subtil que andasse, giestas, urgueiras, pinheiros novos sacudiam-lhe o rocio para o focinho, brincadeira dispensável. Cuidadoso e lesto era o seu caçar, tão cuidadoso e lesto que não chegava a acordar o chão em que punha o pé, mas lá de descobrir láparo embezerrado no meio dum tojo, rã a coaxar no charco, besouro, que fosse, a tocar o rabecão, andava com tão pouca sorte que nem que a tivessem enguiçado olhos de feiticeira.»


Aquilino Ribeiro. Romance da Raposa. Ilustrações de Benjamim Rabier.21ª edição. Bertrand Editora. Lisboa, 1961. p. 18/9
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