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sexta-feira, 13 de março de 2015

"Escreve-se para que algo aconteça
sem acrescentar nada ao mundo"


- António Ramos Rosa, As Palavras.

quarta-feira, 4 de março de 2015

"para dizer em silêncio todo o amor da terra"


António Ramos Rosa, As Palavras.

domingo, 23 de novembro de 2014

Nascimento Último



Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva
densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
Respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que flui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.



António Ramos Rosa, in Cada Árvore é um Ser para Ser em Nós (2002)

terça-feira, 8 de julho de 2014

«A minha casa está só, e já os amigos raramente me visitam, observando cada vez mais o meu gosto pela solidão.»

António Ramos Rosa

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Escreve mas para dissipar o que está escrito


António Ramos Rosa in Gravitações. Colecção de Viva Voz. Litexa, 1983., pp.43/4

terça-feira, 6 de abril de 2010

Presença solar e sólida fugidia...

...Recolho-me para escutar....o silêncio resolver-se-á na
conjugação de palavras sólidas e brancas...palavras que
substituirão o sentido pela arcaica ressonância de uma
disseminação...as palavras serão a realização aberta à
qualificação mais livre e nula

...É um novo silêncio e um novo sol
sobre a mesa de pedra
o meu desejo à claridade da folha
lança-se
sobre um campo verde
ao abandono vejo


a força material dos membros e o tronco de mulher
as pernas fortes laceradas pelos espinhos
pernas solares sólidas para os caminhos solitários e
íngremes
ignoro se invento esta presença
com as palavras ou se algo se abriu
no interior de um olhar
ignoro se estas palavras vêem da visão
de uma figura entrevista entre as árvores...

uma energia intensa...é quase um grito
que cega e liberta
e se suspende ao abandono na página
e então será o arranque ou a explosão
a planície líquida onde a figura emerge...
a solidez compacta dos seios
o triângulo negro do púbis
o triunfo branco das pernas sólidas redondas


Vejo-te transcrita palpitante seda
forma alta e pura branca e livre
nascida do desejo e da linguagem sólida
quem te chamaria o sol entre as árvores vibrantes
se mais que o sol deslumbra e és solar
solar e nítida nos caminhos ásperos
viajante das manhãs de um sossego de fábula
terra terra verde e doirada ó fulva deusa
que corres como um arco sobre as hastes
tuas pernas brancas revelam-se sobre as vestes
branquejam sobre a página incendeiam-se
sólidas solares cálidas fogosas
como te materializas se te apagas branca
e mais não és que um sopro dissipado
estas palavras no entanto te levantam
ó amor de um corpo que a linguagem liga
ambígua intermitente e luminosa embora
como transmitir tua geometria das formas
se te fragmento e dilacero te perco...

A presença viva apaga-se entre as pedras no papel...apaga-
-se mas não se anula...fica o seu rastro alucinante...uma visão
vaga mas ardente...o desejo de retornar ao canto...ouvi-la
cantar no próprio movimento das formas ó perfume da
solidez divina terrena brancura invulnerável....



António Ramos Rosa in Gravitações. Colecção de Viva Voz. Litexa, 1983, pp.33/4

sexta-feira, 19 de março de 2010

A partir do deserto

Abre-se o espaço uma corola se abre
a partir do deserto
um silêncio se apaga outro silêncio de água

Desce a dançarina exacta
até ao extremo da brancura

A noite é verde
na distância dos cabelos
nenhuma imagem subsiste
nenhuma gota de sangue
o sol repousa numa obscura nuvem

Absoluta a suavidade sem espera
um aroma sem aroma
o silêncio entre os corpos


António Ramos Rosa in Gravitações. Colecção de Viva Voz. Litexa, 1983, pp.20

Não dissemos as palavras mais simples

Não dissemos as palavras mais simples
a caligrafia das águas sobre a pedra uma pedra vacila
verde
as árvores despertam dormem apertadas na concavidade
do rumor
não dissemos ainda as pálpebras longínquas do horizonte
o trémulo deslumbramento da água jorrando lisa da terra
não dissemos a progressão das formigas em torno da árvore
de claras malhas como um leopardo
não dissemos as vagas sombras imóveis as folhas verdes
as altas e negras flores nas varandas suspensas
não dissemos sequer o nascimento da terra e do cavalo
as manhãs a meia-noite o turbilhão
do ventre o arranque para a primeira explosão no mar e o muro
onde o tempo se condensa como um navio suspenso sobre
o mar vertical

António Ramos Rosa in Gravitações. Colecção de Viva Voz. Litexa, 1983, pp.11
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