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sexta-feira, 25 de março de 2016

''Se eu fosse cego amava toda a gente.''


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 71




«Tristes por  seus silêncios convidavam-se a uma para longos passeios na margem do rio, no bosque, na floresta; e os longos passeios davam-lhe apenas longos silêncios que lhes não consentiam sequer darem os braços. Não se olhavam. Apenas ele, como mais velho, depois de longas horas mudas começava a dizer-lhe das estrelas bonitas. Ela respondia-lhe nas canções da águas nas fontes.»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 67

terça-feira, 22 de março de 2016

''ceia-fadiga''

«Sou apenas o Mendigo de Mim-Próprio,»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p 51
(...)

« e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres...
Tu consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização!»



Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p49

domingo, 27 de abril de 2014

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Antes de Começar*

A BONECA - A dizer a verdade, eu nunca me enganei...Mas nunca faço nada porque tenho medo de me enganar!...
O BONECO - (A ralhar.) Pareces mais uma menina que uma boneca!!!
A BONECA - Mas o que é que queres?...Eu sou assim...A ti que és boneco, não te ficava mal levantares-te por tua própria iniciativa e sem que ninguém saiba... (A crescer de interesse.) Mas
achas que me ficava bem a mim uma boneca, levantar-me por minha própria vontade, sem mais nem menos?
O BONECO - Estou-te a dizer que todas as noites me fartei de puxar por ti!...
A BONECA - Eu julgava que era o Homem!
O BONECO - Ora aí está! De que serviu eu ter puxado tanto por ti, se tu te punhas a julgar outras coisas!...
A BONECA - (Perfil.) Chiu!...Supõe tu que era o Homem.
O BONECO - Mas não era o Homem, era eu!!!
A BONECA - (3/4.) Mas eu é que não sabia!...
O BONECO - Olha! digo-te outra vez: Pareces mais uma menina do que uma boneca!
A BONECA - E não dizes nada mal!...pois quantas vezes eu me esqueço de que sou uma boneca e me ponho a pensar, exactamente como se fosse uma menina!
O BONECO - (Ri.) Isso é mesmo de boneca!
A BONECA - Mas que queres que eu faça? Eu sou assim...Não fui eu que me fiz!...E tu também não podes falar!...Tu levantas-te quando te apetece e mexes-te à tua vontade, como se fosses uma pessoa...e isto, para um boneco parece a mais!...
O BONECO - És mesmo parvinha de todo! É o que eu te digo: nem pareces uma boneca! Então tu não sabes, minha estupidazinha, que um boneco, quando não está ninguém a ver se mexe à sua vontade?
A BONECA - Já me quis parecer isso ...tenho pensado muito a esse respeito...mas a certa altura começa-me a doer a cabeça e nunca consegui, até hoje, pensar esse assunto todo até ao fim!
O BONECO - Tu és uma fraca!
A BONECA - Pois sou...Não tenho coragem nenhuma! Eu nem tive nunca coragem para me mexer de posição em que o Homem me deixasse!...E tu? Lembravas-te sempre, exactamente, da posição em que o Homem te tinha deixado?
O BONECO - Sempre!


Almada Negreiros in Antes de Começar. Colecção BARATINHA. Raiz Editora. Lisboa, 1995

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Antes de Começar*

O BONECO - Já por várias vezes fomos os dois juntos dentro da mesma algibeira!...
A BONECA - É verdade!...Nesse tempo não sabia que tu eras como eu...
O BONECO - É verdade!...nem eu!...e podíamos ter falado tanto, dentro da algibeira!...Fartei-
me de puxar por ti!...
A BONECA - Eu não sabia que eras tu!
O BONECO - Era eu!
A BONECA - Porque não me disseste ao ouvido?
O BONECO - Eu não sabia que tu ouvias!
A BONECA - Pois ouvia!
O BONECO - E tu nunca te aborrecias de estar sempre na posição em que o Homem te tinha dei-
xado?
A BONECA - Punha-me a pensar...Pensei muito! Pus por ordem todas as coisas que aconteceram
comigo...Sei tudo de cor...
O BONECO - Conta, conta o que sabes!...
A BONECA - Só há uma coisa que eu não sei e que também aconteceu comigo...
O BONECO - O que foi?
A BONECA - Não sei explicar a razão por que são tão pequenas as pessoas que vêm todas as
noites ver o espectáculo!...
O BONECO - (Ri.) São assim tão pequenas porque ainda não chegaram a grandes...As pessoas pequenas chamam-se crianças.
A BONECA - Isso não sabia eu...Era a única coisa que eu não tinha sido capaz de compreender!...Via umas pessoas maiores e outras mais pequenas, e não sabia a razão.
O BONECO - Ah! Ah! Ah!
A BONECA - Naturalmente estás-me a enganar?...
O BONECO - Não te estou a enganar, não...estou a rir-me do que terás para contar se não sabias
que as pessoas antes de serem grandes começam por ser pequeninas!...(Ri.)

Almada Negreiros
in Antes de Começar
Colecção Baratinha, Raiz Editora, 1995
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