De Herberto Helder
Quem fabrica um peixe fabrica duas ondas,
uma que rebenta floralmente branca à direita
e o ouro Íngreme puxando o começo da noite
e o fim do enorme dia onde todos morreremos
como filhos escorraçados ou disso a que chamam demónio da analogia
quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde,
só depois de estar maduro,
quem baixa a mão para quebrar um selo há-de baixá-la
para quebrar os outros, e há-de fechar os olhos,
e de tanto ter visto não poderá nunca mais abri-los:
e como pão e bebo água de olhos fechados como se fosse para sempre,
e assim, adeus a quem vê, que eu morro inteiro para dentro,
e vejo tudo só de entendê-lo.
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Herberto Helder, in Servidões

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