« ELE - Peço-te.
ELA - (Voz sereníssima.) Sentinela à vista.
ELE - Já sei. Acabou-se tudo. Mas espera.
ELA - Que mais há depois do fim?
ELE - Não sei qual seja a minha cobardia: se deva deixar-te, se deva matar-te!
ELA - É o único que ainda poderás de mim: matares-me. Precisamente o contrário do que de mim queiras. Querias-me para a vida. Para sempre: na vida e na morte. Ter-me-ás para sempre apenas na morte. Não era deste modo que também me querias na morte. É tudo quanto ainda podes de mim. E este final será tudo e o único que houve entre nós.
(A criada desce a escada e sai por onde veio a primeira vez. A mulher senta-se outra vez. Ele também.)
ELE - Um de nós morreu. Um de nós morreu para o outro.
Escolhe: eu ou tu. Se me matas, já estava morto para mim. É um estranho quem me mata. Um desconhecido. Um intruso. Um morto que me tira a vida.
(Pausa.)
ELA - Dois desconhecidos podem frente afrente ficar encontrados um primeiro dia. Nós não: mesmo frente a frente não há encontro possível.
ELE - Não há já encontro possível, nem comigo nem com ninguém. É a ti que a minha intransigência não deixará viver. Ficarás eternamente sozinha com todos, pública e in-ti-ma-men-te!
(Ela levanta-se bruscamente. Ele também.)
ELA - O que seja. O que for será. Se acaso passa por ti o meu destino, ponto final. A tua parte cumpriu-se. Como gente que sou, tenho direito a recusar acasos que não desejo.
(Dando passos atrás para se lhe dirigir melhor.)
ELA - Sou eu mesmo a surpreendida: primeiro desmaiei. Ignorava tanto da minha fragilidade. Foi-se-me a luz quando nada tinha que iluminar. E, ao despertar, o sangue corria à vontade por minhas veias e artérias.»
ELA - (Voz sereníssima.) Sentinela à vista.
ELE - Já sei. Acabou-se tudo. Mas espera.
ELA - Que mais há depois do fim?
ELE - Não sei qual seja a minha cobardia: se deva deixar-te, se deva matar-te!
ELA - É o único que ainda poderás de mim: matares-me. Precisamente o contrário do que de mim queiras. Querias-me para a vida. Para sempre: na vida e na morte. Ter-me-ás para sempre apenas na morte. Não era deste modo que também me querias na morte. É tudo quanto ainda podes de mim. E este final será tudo e o único que houve entre nós.
(A criada desce a escada e sai por onde veio a primeira vez. A mulher senta-se outra vez. Ele também.)
ELE - Um de nós morreu. Um de nós morreu para o outro.
Escolhe: eu ou tu. Se me matas, já estava morto para mim. É um estranho quem me mata. Um desconhecido. Um intruso. Um morto que me tira a vida.
(Pausa.)
ELA - Dois desconhecidos podem frente afrente ficar encontrados um primeiro dia. Nós não: mesmo frente a frente não há encontro possível.
ELE - Não há já encontro possível, nem comigo nem com ninguém. É a ti que a minha intransigência não deixará viver. Ficarás eternamente sozinha com todos, pública e in-ti-ma-men-te!
(Ela levanta-se bruscamente. Ele também.)
ELA - O que seja. O que for será. Se acaso passa por ti o meu destino, ponto final. A tua parte cumpriu-se. Como gente que sou, tenho direito a recusar acasos que não desejo.
(Dando passos atrás para se lhe dirigir melhor.)
ELA - Sou eu mesmo a surpreendida: primeiro desmaiei. Ignorava tanto da minha fragilidade. Foi-se-me a luz quando nada tinha que iluminar. E, ao despertar, o sangue corria à vontade por minhas veias e artérias.»
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