quinta-feira, 13 de junho de 2024

 « mas não foi assim, e ele continuou descalço;
e a tosse piorou; passados mais três dias,
custou-lhe a levantar-se;
não queria, mas os vizinhos fizeram-no ir ao hospital;
foi convocado para voltar dentro de uma semana:
dali a uma semana ele já não se sentia capaz de ir, e foi
um vizinho, o Amadeu, que mandou vir uma ambulância. 
na recepção, quando chegou, uma ajudante meteu-lhe
umas chanatas nos pés, grandes demais;
deu dois passos com elas, escorregou, caiu 
e fez um enorme lanho na testa; e agora?
agora,
antes da consulta da tosse
tinha de ir às urgências,
analisar o golpe e levar uma série de pontos.
no dia seguinte, o Amadeu e a mulher foram visitá-lo,
- ele que tinha? quiseram saber:
- tosse!
-só sabemos da queda cá dentro ... e
então foi transferido para outro hospital;
e deram-lhe o respectivo nome, mas
ali não estava.
correram hospitais, mas ele não estava,
não se sabia nada:
- ou houve troca de papéis...porque tosse não era,
o hospital era outro...muitos podiam ser!
e com esta quantidade de serviço!
o Amadeu e a mulher procuraram 
em todo o lugar imaginável, até que
finalmente conseguiram a certidão de óbito.»


Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 71

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