“... o sofrimento é um momento muito longo. Não o podemos dividir por
estações. Apenas podemos notar os seus modos e registar a sua volta. Para
nós o próprio tempo não avança. Revolve. Parece circular em torno de um
só centro de dor. A imobilidade paralisante de uma vida da qual cada
circunstância está regulada segundo um molde imutável, de modo que
comemos e bebemos segundo as leis inflexíveis de uma fórmula de ferro: este
carácter de imobilidade que faz cada horroroso dia no seu mínimo detalhe
como todo outro dia parece transmitir-se àquelas forças exteriores[, e o texto completa-se, de modo pouco legível,] a essência de cuja existência é mudar
incessantemente.”
Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, Lisboa, 1968, I, 228
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