A VIRGEM DE MEMLING ATRAI COM UMA MAÇÃ
OS SUICIDAS A BRUGES
Que mais pedir à lassidão e ao sonho
que o último tomo de uma geira
neste sonambulismo das coisas
em sua propriedade de cera?
Um cometa de lacre tudo selou
e na liturgia do sossego
inerte e insone a água ficou
num impossível voo negro
Propõem os sinos lêvedas horas
e estátuas jacentes submetidas
e falando uma língua morta
declinam os dias pendões de guildas
mercadoria de reinos mortos
que fundam penados sucursais
Sustendo o pó dois anjos seguram
o céu coroa seca de decimais
Húmida e amarela pinga nos canais
uma luz de sódio lua de gafeira
que as habitantes do esquecimento dá
a sua cor final e verdadeira
E eu peço a estas sombras empalhadas
(embalsamado horror de olhos abertos)
os sete palmos que honestamente vão
do meu coração aos meus desertos
Acaso é uma linha imaginária
a morte que separa este hemisfério
numa cordial agência funerária
de cinzas pó e nada
ou do mistério?
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 165/6
domingo, 30 de setembro de 2018
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário