Pedro Paixão
domingo, 17 de junho de 2018
«O meu país é um país que não reconhece o verdadeiro valor, não gratifica a excelência, e mal suspeita de alguma coisa original, logo, estranha, esmaga-a. Camões morreu pobre e desolado. Provavelmente sem ter tido sequer a sorte de ter tido um único amigo, como eu tive. O Pessoa, que viveu de quarto em quarto, foi morrer com o fígado trespassado a um hospital com nome de santo francês que está no Bairro Alto e, ao que se diz, a última frase que lhe se ouviu foi em inglês que a disse I do not know what tomorrow will bring, para tirar as dúvidas a quem as tivesse. O Ruy Belo, um magnífico poeta, foi um herói desprezado primeiro pela academia fascista e, depois, pela academia democrática. O Ruy Cinatti, um poeta entre os maiores, enlouqueceu com a revolução dos medíocres e presumidos cravos, que entretanto desapareceram como espécie. Eu só não me deixei esmagar porque não tenho valor algum em particular, nunca tendo chegado a ser o que queria (…) [“Espécie de Amor”, 2014]»
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