dobro a esquina da memória
a mais próxima dos amigos de então
e ali fico
sob a luz que no poste
me derrama em mil sombras
que uma a uma reconheço
o que fui o que sou
o que um dia quiseram que eu fosse
mas não fui
o que nunca por nada serei
o que tudo fizeram por não ser
mas fui
o que a esquina da memória dobrou
e no poste sob a luz se inspirou
sou eu não sou
na dialéctica da vida
fui aquele que nunca foi
sou aquele que sempre será
assim
a beber no antigamente
ficou-me a sede
do eternamente
(1974)
Silêncio escancarado, 1982
Rui Nogar in 50 Poetas Africanos. Plátano Editora, 1ª Edição, Lisboa., p. 391
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