«Por que motivo as palavras da incompreensão ou da injustiça te penetram até ao íntimo do teu coração, senão porque és ainda carnal e dás ainda aos homens uma importância que não merecem? Porque temes ser desprezado, não queres ser repreendido pelos teus defeitos e procuras encobri-los com a sombra de algumas desculpas?
2. Entra bem no conhecimento de ti mesmo e verás que o mundo ainda vive em ti, pelo desejo que tens de agradar aos homens. Fugindo de ser abatido e confundido por causa de teus defeitos, é visível que não és verdadeiramente humilde, nem verdadeiramente morto para o mundo, e que o mundo não está verdadeiramente morto para ti.
Ouve as minhas palavras e não farás caso das palavras que os homens disserem. Quando eles disserem contra ti quanto a malícia pode inspirar, que danos receberias dessas injúrias, se as desprezasses como palha que voa pelo ar?
Elas todas juntas não teriam força para fazer-te saltar da cabeça um só fio de cabelo.
3. Quem não anda recolhido interiormente e não traz Deus diante dos olhos, irrita-se com a menor palavra que o ofende. Mas quem confia em mim e não se aferra ao próprio juízo, nada teme da parte dos homens.
Eu sou o juiz que conhece todos os segredos do coração humano. Eu sei como as coisas se passaram. Conheço, perfeitamente, quem faz a injúria e quem a sofre.
Por minha ordem é que sofres. Por permissão minha é que este mal te sucede, para que se descubram os pensamentos ocultos no coração de muitos.
Eu julgarei algum dia o inocente e o culpado; mas, por um juízo secreto, quero primeiro provar um e outro.»
in Imitação de Cristo
Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 130