terça-feira, 15 de abril de 2014

«Falo-lhe ainda sobre o medo. Tento explicar-lhe. Não consigo. Digo: Está em mim. Segregado por mim. Vive de uma vida paradoxal, simultaneamente genética e celular. Está em mim. Sem linguagem para se manifestar. Visto de mais perto, é uma crueldade nua, muda, de mim para mim, alojada na minha cabeça, no calabouço mental. Estanque. Com surtidas para a razão, a verosimilhança, a clareza.
   Você olha-me e deixa-me falar. Olha para mais longe. Diz:
   -É o medo. O que acaba de descrever é o medo. É isso, não há outra definição.
   -Una cousa mentale.
   Você não me responde. E a seguir diz que é assim com toda a espécie de medo.»


Marguerite DurasEmily L. Tradução de José Carlos González. Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 1987., p. 52
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