«Mas Julião desprezava estes cómodos artifícios; preferia ir para longe das pessoas caçar com o seu cavalo e o seu falcão. Quase sempre levava consigo um enorme falcão tártaro da Cítia, branco como a neve. No alto do seu capuz de couro, sobressaía um penacho, tremelicavam-lhe guizos de ouro nas patas azuis, e mantinha-se firme nos braços do seu dono enquanto o cavalo galopava e as planícies se sucediam. Então, Julião desamarrava-lhe as correias e largava-o: o destemido animal subia ao pique pelo ar, como uma seta; e viam-se rodopiar duas manchas desiguais, juntar-se e depois desaparecer nas alturas do céu azul. O falcão não tardava a descer, despedaçando um pássaro qualquer, e, com as suas asas trémulas, vinha pousar na manopla.»
Gustave Flaubert. A Lenda de São Julião Hospitaleiro. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 65
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