terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ele nada respondia, ou desatava em soluços - até que um dia, finalmente, confessou o seu terrível pensamento.

«Para o animar, a mulher mandou chamar malabaristas e dançarinas. Passeava com ele pelo campo numa liteira aberta - ou então, estendidos na extremidade de uma chalupa, viam os peixes a vaguear na água, clara como o céu. Outras vezes, ela gostava de lhe lançar flores ao rosto. Acocorada a seus pés, tirava melodias de um bandolim de três cordas. Depois, pousando-lhe no ombro ambas as mãos juntas, perguntava-lhe com uma voz tímida:
   «Que tendes vós, meu amado senhor?»
   Ele nada respondia, ou desatava em soluços - até que um dia, finalmente, confessou o seu terrível pensamento.»



Gustave Flaubert. A Lenda de São Julião Hospitaleiro. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 76

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