sábado, 30 de julho de 2011

LA PONCIA

A filha solteira da Librada teve um filho não se sabe de quem.

ADELA

Um filho?

LA PONCIA

E para ocultar a vergolha matou-o e escondeu-o debaixo de umas pedras; mas os cães, com mais coração do que muitas pessoas, deram com ele e, como levados pela mão de Deus, foram-no pôr na soleira da porta. Agora querem-na matar. Trazem-na de rastos pela rua abaixo, e os homens vêm a correr pelos atalhos do olival, dando gritos que fazem estremercer os campos!

BERNARDA

Sim, venham todos com varas das oliveiras e os cabos das enxadas! Venham todos matá-la!

ADELA

Não, não. Matá-la, não!

MARTÍRIO

Sim, e vamos todas ver!

BERNARDA

Que morra a que espezinhou a honra!

(Fora ouve-se um grito de mulher e um grande rumor.)

ADELA

Deixem-na fugir. Não saiam daqui!

MARTÍRO
(olhando para Adela)

Tem de pagar o que fez!

BERNARDA
(debaixo do arco)

Acabem com ela antes que cheguem os guardas! Ponham-lhe carvões a arder no sítio do seu pecado!

ADELA
(deitando as mãos ao ventre)

Não!Não!

BERNARDA

Matem-na! Matem-na!

                                                                                                                           (Cai o pano.)




Frederico García Lorca. A Casa de Bernarda Alba. Publicações Europa-América, Lisboa, p. 108/9

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