«Movido pela ridícula necessidade de clareza dum cérebro ainda não adulto, continuava a perguntar a mim próprio se amava aquela mulher. Além de que faltava até agora a esta paixão a prova de que os menos grosseiros de nós se servem para autenticar o amor, e sabe Deus o rancor que eu tinha a Sofia pelas minhas próprias hesitações. Mas o que fazia a desgraça desta rapariga abandonada a todos era que não se podia pensar em comprometermo-nos para com ela que não fosse para a vida inteira. Numa época em que todos desertam, dizia a mim mesmo que ao menos aquela mulher seria sólida como a terra, sobre a qual podemos construir ou deitarmo-nos. Teria sido belo recomeçar o mundo com ela numa solidão de náufragos.»
Marguerite Yourcenar. O Golpe de misericórdia. Tradução de Rafael Gomes Filipe e prefácio de Agustina Bessa-Luís. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1987, p. 91
Sem comentários:
Enviar um comentário