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O veado encantado (o veado enfeitiçado) é o grande aterrador da imaginação simples dos camponeses na Grécia. É uma espécie de poder divino cheio de terrores sagrados. Traz a cruz nos galhos e o crescente (a Lua) no corpo; quando se abana as montanhas e os campos tremem; com as patas arranca as árvores; a alta voz é re-ecoada pelos mais altos picos das montanhas:
«Tem uma cruz nos galhos e uma lua no seu dorso.
Treme e tremem as montanhas, treme e tremem as planícies.
Ao mexer as suas patas muitas árvores arranca.
Falou com a voz aos guinchos, gemem as montanhas, ladeiras:
'Aqui onde cinco nem pisam e dez não atravessam,
Que procuravas sozinho armado e indo a pé?'»
As tradições relacionadas com este veado são muito antigas e datam da era bizantina.
Insectos encantados encontram-se aqui e acolá na Grécia. Existe uma lenda coríntia que descreve uma elevação escarpada entre Xylocastrum e Zura na qual um enxame de abelhas tinha estabelecido sua morada. Ninguém a não ser um destemido viajante tentou apanhar o mel dessa colmeia. Mandou que o baixassem com uma longa corda; contudo, no mesmo instante em que o baixaram uma extensão considerável foi visto contocer-se debaixo das maiores torturas pensando que a corda era uma cobra que procurava enredá-lo no seu abraço mortal. Incapaz por fim de suportar a tortura mental puxou da faca, cortou a corda e perdeu-se no abismo.
Uma abelha vermelha encantada crêem os de Rodes que entra no quarto dos homens ou mulheres moribundos precisamente uma hora antes que eles ou elas expirem; e os de Samos falam das abelhas que fixam residência na casa do perjuro com um ruído inaudível a quaisquer outros ouvidos.»
Konstandinos Kavafis. Poemas e prosas. Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis. Relógio D'Água. Lisboa, 1994., p. 154
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