Eu vivo. Nunca fiz vida. Fui mais sensato, gozei apenas...
Procriar é uma malvadez: é fazer desgraçados. É um crime matar, preceituam as leis. Crime muito maior é formar assassinos.
O filho devia amaldiçoar os pais. Foram eles que o condenaram à existência...ao suplício eterno...
Só há uma coisa pior que a vida: é a morte.
Se a humanidade fosse inteligente, se porfiasse, acabaria com os homens. Ventura suprema! Suprema superioridade! Demonstraria que tinha mais força do que o Criador: destruiria a sua obra infame.
Mas ninguém quer domar os sentidos; com os sentidos, ninguém quer ser hipócrita...
A morte era a recompensa da vida. Os homens que estragam tudo, estragam também essa recompensa: inventaram a alma, o Inferno e o Céu.
Só se compreende o compreensível. O Universo é incompreensível para os homens. Por isso estes o admiram, pasmam alarvamente diante dessa chocha «maravilha»...
A vida faz doer. E a morte?
Mário de Sá-Carneiro. Loucura. Publicações Europa-América, .p. 54/5
Forte , muito forte , chega a ser violento este argumentar . Lembro-me de ter lido isto quando era novo e não me lembro de o ter lido . Se calhar o Calvino é que tem razão , certos livros precisam de ser estudados mais do que uma vez numa vida . Este pú-lo na minha lista de releitura .
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