hoje é um dia tremendo na força das margens
um dia cheio de lama e de pedras nos bolsos
um dia de ver os órgãos na montra do talho
é um dia feito de garrotes para conter a luz
os pássaros trocaram o canto pela trovoada
a brisa anuncia-se num ranger de dentes
transformaram o horizonte num desfiladeiro
um abismo perpétuo onde morrem a luz e a voz
hoje é um dia ao contrário do solstício
um parede de ferro onde desaguamos em carne
não se pode viver num dia assim não se pode morrer
não é habitável não tem relação com o sangue
é uma verruga no lábio por cima do beijo
um escarro de física imprevisível regressando
um dia como a casa em ruínas onde dormem crianças
Valério Romão
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sábado, 20 de agosto de 2016
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