vivemos convivemos resistimos
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores
fizemos porventura algum ruído
traçámos pelo ar tímidos gestos
e no entanto por que palavras dizer
que nosso era um coração solitário silencioso
silencioso profundamente silencioso
e afinal o nosso olhar olhava
como os olhos que olham nas florestas
No centro da cidade tumultuosa
no ângulo visível das múltiplas arestas
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos um nome para isto
mas o tempo dos homens impiedoso
matou-nos quem morria até aqui
E neste coração ambicioso
sozinho como um homem morre cristo
Que nome dar agora ao vazio
que mana irresistível como um rio?
Ele nasce engrossa e vai desaguar
e entre tantos gestos é um mar
Vivemos convivemos resistimos
sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos
Ruy Belo. Obra poética de Ruy Belo.Presença, 1990, vol.2., p.15
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segunda-feira, 7 de junho de 2010
«Os peixes negros e dourados das recordações
olhos brilhantes de animais desconhecidos
pequeníssimas flores da memória
relâmpago dourado do olhar»
Ruy Belo. Todos os poemas. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004, v.3., p. 211
olhos brilhantes de animais desconhecidos
pequeníssimas flores da memória
relâmpago dourado do olhar»
Ruy Belo. Todos os poemas. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004, v.3., p. 211
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