O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos
teus olhos
pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o
outono.
Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem
um terceiro:
sorvemos um último vazio.
Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais
depressa um ao outro os alimentos:
a noite é a noite, começa com a manhã,
é ela que me deita a teu lado.
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.11
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segunda-feira, 18 de julho de 2011
MARIANNE
Sem lilases é o teu cabelo, o teu rosto de espelho.
De olhos para olho segue a nuvem, como de Sodoma para Babel:
desfolha a torre como folhagem e brama em torno do arbusto de
enxofre.
Há então um relâmpago cortando a tua boca - aquele abismo
com os restos do violino.
Com dentes de neve há um que maneja o arco: mais belo o som
da cana!
Amada, também tu és a cana e nós todos a chuva;
o teu corpo um vinho sem igual, e somos dez a bebê-lo;
o teu coração uma barca no trigo, nós levamo-la em direcção à
noite;
um cantarinho azul, saltas assim ligeira sobre nós, e nós dor-
mimos...
Passa diante da tenda a centúria, e emborrachados levamos-te a
enterrar.
E soa então nas lages do mundo o duro táler dos sonhos.
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.5
De olhos para olho segue a nuvem, como de Sodoma para Babel:
desfolha a torre como folhagem e brama em torno do arbusto de
enxofre.
Há então um relâmpago cortando a tua boca - aquele abismo
com os restos do violino.
Com dentes de neve há um que maneja o arco: mais belo o som
da cana!
Amada, também tu és a cana e nós todos a chuva;
o teu corpo um vinho sem igual, e somos dez a bebê-lo;
o teu coração uma barca no trigo, nós levamo-la em direcção à
noite;
um cantarinho azul, saltas assim ligeira sobre nós, e nós dor-
mimos...
Passa diante da tenda a centúria, e emborrachados levamos-te a
enterrar.
E soa então nas lages do mundo o duro táler dos sonhos.
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.5
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Yvette K. Centeno
«Ele não conhece o manto e não invocou a estrela e segue aquela
folha ondeando à sua frente.
«Oh, folha de erva», julga ele ouvir, «oh, flor do tempo.»
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.5
folha ondeando à sua frente.
«Oh, folha de erva», julga ele ouvir, «oh, flor do tempo.»
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.5
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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
A Morte
Para Yvan Goll
A morte é uma flor que só se abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.
Abre sempre que quer, e fora de estação.
E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes
Deixar-me ser o caule forte da sua alegria.
Paul Celan in A Morte É Uma Flor. Poemas do Espólio.
Trad. João Barrento. Edição Bilingue. Edições Cotovia, Lisboa, 1998., pp.15
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