domingo, 13 de julho de 2025

O Marido

 Chega carrancudo a casa cheio de pó de carvão e deixa
de propósito a bacia suja e as toalhas para que ela
aprenda à custa de escova e tábua
o carácter difícil do dinheiro.

Que aprenda como foi esse o pó
que lhe fez desejar a sede e o direito a saciá-la
e como é o suor que trocou por dinheiro
e o sangue que fica em cada moeda. Humilha-a

com mais considerações sobre as suas obrigações.
As batatas fritas, ao fim de duas horas já rijas do calor do forno,
são apenas uma pequena parte da resposta.
Quando ouve o resto, atira-as bruscamente para dentro do lume

e vai de um lado ao outro da casa a cantar
«Voltem sempre a Sorrento» com uma voz
estrondosa que parece troar em chapa ondulada.
Perante o insulto, o corpo dela fica corcunda...

Porque elas hão-de vir a ter os seus direitos.
Os seus representantes sairão
de entre os bocados de fuligem. As suas reivindicações
irão direito ao céu e nunca mais se ouvirá falar disso.

Ted Hughes

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