domingo, 11 de maio de 2025

 « (...) Pela janela vejo o pátio vazio. A escuridão desce suavemente do céu, cobrindo tudo como orvalho negro.
 O mais difícil de suportar é a ausência de movimento, densa e visível: o crepúsculo frio e a ténue luz das lâmpadas de vapor de sódio, que mergulha na escuridão a um metro da sua origem.
 Nada acontece. A marcha da escuridão detém-se junto à porta de casa e todo o burburinho do escurecimento se silencia, criando uma camada espessa como a nata do leite fervido a arrefecer. Tenho um céu como pano de fundo, os contornos dos edifícios estendem-se no infinito e perdem lentamente os rebordos, arestas e cantos angulosos. A luz evanescente leva consigo o ar que se torna irrespirável. A escuridão embrenha-se agora na minha pele.»

Olga Tokarczuk. Viagens. Tradução Teresa Fernandes Swiatkiewicz. 1ª edição, 2019, Cavalo de Ferro., p. 7

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