terça-feira, 30 de janeiro de 2024

ERVA DAS BRUXAS

 Qualquer coisa
indesejada chega ao mundo
e chama por desordem, desordem -

Se me odeias assim, 
porque cuidas em me dar
um nome? Precisas
de acrescentar uma calúnia
à tua língua, de encontrar outra
forma de culpar
uma tribo por tudo -

como sabemos ambos,
se adoras
um só deus, basta-te
 um inimigo -

Eu não sou o inimigo
sou só um estratagema para ignorar
o que vês acontecer
neste canteiro,
pequeno paradigma
de fracasso. Uma das tuas queridas flores
morre aqui quase todos os dias,
e tu não descansas enquanto
não atacas a causa, ou seja,
o que resiste e sobra, o que
parece ser mais forte
que a tua paixão pessoal -

Não estava destinada 
a durar para sempre no mundo real.
Mas porquê admiti-lo agora, se podes continuar 
a fazer o mesmo,
lamentares-te a acusar 
sempre as duas coisas.

Não preciso do teu louvor
para sobreviver. Eu já cá estava
antes de tu chegares, antes
sequer de teres plantado um jardim.
E hei-de estar aqui quando nada mais
houver, só o sol e a lua e o mar e o vasto campo.

Eu serei o campo.


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 49/50

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