quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

CREPÚSCULO DE INVERNO

 Para Max von Esterle
Negro céu de metal.
A flutuar, atravessam tempestades vermelhas,
De noite, as gralhas enlouquecidas de fome,
Lívidas, sob o relvado do parque.

Nas nuvens, congela um raio até morrer;
E, ante as maldições de Satanás, contorcem-se
As gralhas em sete círculos e 
Descem sete vezes.

Na podridão, doce e sem sabor,
Aparam, em silêncio, os seus bicos.
Ameaçam casas das paragens em redor;
Claridade no teatro.

Igrejas, pontes e o hospital,
Horríveis de ver, de pé, ao crepúsculo.
Telas de linho manchadas se sangue,
Velas que incham ao vento no canal.


Georg Trakl. Poemas. Tradução e Prefácio António de Castro Caeiro. Editora Abysmo., p. 25

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