«o romance, apesar da condenação de alguns dos seus próprios cultores, aparece-nos com
extraordinária importância hoje. É talvez a manifestação artística mais concreta. A poesia dá-nos
uma afirmação que muitas vezes compreendemos mais sensivelmente do que inteligentemente. É
uma síntese. No romance aparece-nos a afirmação também mas mais concretamente. Concreto,
talvez não seja a expressão própria. Queremos dizer: enquanto num poema se nos afirma
directamente é, num romance afirma-se-nos é duma forma talvez mais indirecta mas mais
documentada: - é por isto, não é por aquilo. A poesia dar-nos-á directamente uma sensação. O
romance explicar-no-la-á. O poeta que cante a miséria dum camponês pode desconhecer (e
talvez mesmo não no-lo deva dar) o tamanho exacto da sua choupana, o preço dos géneros
alimentícios em relação com o seu salário, as minúcias do seu estado de cultura ou incultura. O
romancista, pelo contrário, deve conhecer todas essas minúcias, deve dar-no-las
circunstanciadamente, deve pôr sempre um problema, enunciá-lo e resolvê-lo.»
Mário Dionísio. ''A propósito de Jorge Amado - I”, O Diabo, nº164, 14.11.1937, p.3.
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