sábado, 6 de outubro de 2018

«o romance, apesar da condenação de alguns dos seus próprios cultores, aparece-nos com extraordinária importância hoje. É talvez a manifestação artística mais concreta. A poesia dá-nos uma afirmação que muitas vezes compreendemos mais sensivelmente do que inteligentemente. É uma síntese. No romance aparece-nos a afirmação também mas mais concretamente. Concreto, talvez não seja a expressão própria. Queremos dizer: enquanto num poema se nos afirma directamente é, num romance afirma-se-nos é duma forma talvez mais indirecta mas mais documentada: - é por isto, não é por aquilo. A poesia dar-nos-á directamente uma sensação. O romance explicar-no-la-á. O poeta que cante a miséria dum camponês pode desconhecer (e talvez mesmo não no-lo deva dar) o tamanho exacto da sua choupana, o preço dos géneros alimentícios em relação com o seu salário, as minúcias do seu estado de cultura ou incultura. O romancista, pelo contrário, deve conhecer todas essas minúcias, deve dar-no-las circunstanciadamente, deve pôr sempre um problema, enunciá-lo e resolvê-lo.»

Mário Dionísio. ''A propósito de Jorge Amado - I”, O Diabo, nº164, 14.11.1937, p.3.

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