Amar não é esquecer
o rosto sobre as cinzas.
Mas é lembrar o fogo
e o que ele limita.
E enrijecê-lo todo,
carvão de rubra fibra.
O fogo, o fogo, o fogo,
no potro, que o encilha.
E ir queimando como
se vai moldando a argila.
Sabemos que o abandono
mantém as formas fixas.
O fogo, o fogo, o fogo,
suas rédeas transidas
com fúrias e perícias.
O fogo, o fogo, os anos
de penhascos e bridas.
O ar no ar as vinhas,
centelhas, iras, víboras.
De tanto amar e amar,
o que em nós queimar,
é o que nos vai podando.
Amar é libertar,
libertar-se das cinzas,
até ficar o fogo,
o seu trote frondoso,
o fogo, o fogo ainda.
Carlos Nejar. A Idade da Eternidade. Poesia Reunida. Escritores dos Países de Língua Portuguesa. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001., p. 218/9
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