Recordação da minha terra (ao amigo João Gourgel)
Outrora, quando criança, as ilusões
que conservo qual herança valiosa,
guardava-as no coração de minha mãe
e minh'alma voava rindo, tão vaidosa...
Anos depois, pelas margens do Zaire
nos palmares, sentia a brisa dolente;
ansioso, lhe ouvia seus tristes cantos
e nas meigas relvas ficava dormente.
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Mais tarde, as alvoradas eram para mim
ternos idílios, e então já pensava
horas esquecidas e o Zaire correndo,
na carreira, pensamentos me levava...
Um dia, depois vestiram-me um fato novo
e consultei o Zaire com o meu olhar
- «Vão-te levar» - pareceu-me ouvir dizer-te
num sussurro com uma alma a soluçar!
Hoje, depois de tão prolongada ausência
aí repousa a minh'alma sem um abrigo.
Muita vez de minha mãe pergunto ao Zaire.
Soluçando diz: - morreu ... sou teu amigo!
(Dos «Termos e Idílios»)
Luanda, 28 de Maio de 1900
Luz e Crença. n.º 2, 1903
Lourenço do Carmo Ferreira in 50 Poetas Africanos. Plátano Editora, 1ª Edição, Lisboa., p. 22
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