Em tempos que já lá vão, vivia em Portugal, uma mulher que, de seu, tinha apenas uma cama e um bacio.
A sua sujeição era tal que mal podia levantar a cabeça. Só servia para a lida da casa. E para a cama.
Levantar a voz não o podia fazer. Lamentar-se também não. Assim, a sua fala, humana, quando saía mais parecia um miado que voz de mulher.
Mesmo assim, de boa que era, essa mulher, mesmo permanentemente de gatas, dançava louca de arrependimento quando o via aparecer a ele, o homem, seu amante e senhor, seu marido.
Muitas das vezes, pensou em rebelar-se. Ninguém gosta de ser escravo. Mas logo acudiam, em socorro da sua mansidão, com contos e histórias que a faziam adormecer e sonhar.
Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 7
domingo, 20 de setembro de 2015
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