sábado, 28 de dezembro de 2013

HEDDA
Como é realmente o seu marido, Thea? Percebe o que digo... no trato diário? É amável para si?

SENHORA ELVSTED (Evasivamente)
É tão senhor do seu próprio valor, que julga que faz tudo melhor do que os outros.

HEDDA
Mas diga-me, não será velho de mais para si? Mais de vinte anos, não é?

SENHORA ELVSTED
Sim. É velho de mais. Em diversos aspectos, a minha vida com ele é miserável. Não temos nenhum ponto de contacto, eu e ele. Nem um bocadinho.

HEDDA
Mas ele não a estima? Quero dizer...mesmo fazendo-o à sua maneira?

SENHORA ELVSTED
Ora! Nunca soube qual é a maneira dele sentir. Julgo que lhe sou útil apenas. Apesar de tudo, não lhe saio cara. Sou fácil de contentar.

HEDDA
Isso é idiota da sua parte.

SENHORA ELVSTED (Abanando a cabeça)
Não consigo ser diferente. Pelo menos, com ele. Efectivamente, não gosta de ninguém a não ser dele próprio. Talvez um pouco, dos filhos...um pouco.



Henrik Ibsen. Hedda Gabler. Tradução de Freire de Andrade. Editorial Presença, Lisboa., p. 57/58
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