«Ouviu Ricardo dar duas, três, quatro horas no relógio da sala, sem conseguir adormecer. Fechava as pálpebras, voltava-se para a direita, voltava-se para a esquerda, fazia por estancar em si o fluxo do pensamento, supunha-se despersonalizado e, de repente, da nebulosa, do magma sem consistência, da absurdez em suspensão que era o seu corpo, uma realidade soltava voz de presença; cá estou! Os sucessos do passado e do presente tornavam a discorrer na sua imaginação em desfiles caprichosos, tão concretos umas vezes que nem revestidos de materialidade, tão fátuos outras que nem puras formas sem nexo, nem senso espiritual.»
Aquilino Ribeiro. O Arcanjo Negro. Livraria Bertrand, 1960., p.152
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