Alguém me disse que estava velha. Tardiamente compreendo. E a única chama que me fez envelhecer foi a dor. A dor de perder alguém. No calendário uma mancha de sangue assinala os dias já convertidos em mais de um ano passado. Batalho com os meus pensamentos, nas longas noites, nas madrugadas frias e silenciosas. Estamos sós, sim, de facto, sós. Não há ninguém para além da nossa vigília. A lanterna alimenta o desassossego. Deito-me e relembro. Relembro a náusea das paredes excessivamente brancas. Ninguém compreenderá. Já não o esperas. Lês à luz da cabeceira, tentando em vão que a viagem saceie o travo amargo. Tê-lo-ás sempre e, terás de viver com isso. Terás de viver, sabendo que, algures nesse dia morreram as tuas ingénuas esperanças. O céu é o teu rosto que as forças que guiam o alto, afastaram das minhas mãos. Já não há lágrimas, elas, tornaram-se o teu Outro, que observa, indiferente, as ruínas, o berço inumano. Dos ramos da amendoeira, bebo a primeva e longínqua presença. A taça erguida ao alto, chama pela minha sede. No sonho vagueio e escureço. Se me ouves o pranto ferido, acolhe-me no teu leito, que perdi as forças para viver nesta ilha, onde tudo é vago rumor.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
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« Não há ninguém para além da nossa vigília » , definiste-o bem , melhor eu não saberia dizer .
ResponderEliminaré uma sensação que tenho. Talvez seja só uma parvoíce.
ResponderEliminar« Je suis seul , je suis tout seul , je n'ai jamais changé . » ( Paul Eluard )
ResponderEliminarNão é uma ficção se outros o disseram de outra maneira , não menos feliz .