Eu era encarregado de um manicómio, pois estava louco.
Chegou um fogo, que ficou esfomeado; por isso eu disse podes comer um toro, mas não subas as escadas e não comas uma dementia praecox.
Eu disse, doidos, ide para o sótão enquanto um fogo come uma cadeira de cozinha ao pequeno-almoço.
Mas o fogo queria uma cortina da cozinha, que comeu e trepou ao mesmo tempo, e depois foi para o tecto comer um caibro.
Eu disse, se tens tanta fome come um caibro, mas não comas um maníaco.
Entretanto, um maníaco no sótão, com um machado, começou a atacar o céu.
Vais provocar chuva, é o que vais fazer, disse eu, feri-lo até que chova.
O fogo, estava a comer uma senhora idosa. Eu disse, uma senhora idosa, vá lá, e uma criança para sobremesa.
Eu disse ao fogo que podia dormir a sesta na cama do maníaco. Mas o fogo queria comer a cama. Estás muito esfomeado, fogo, disse eu.
Mas, por essa altura toda a família do fogo já tinha entrado e estava a comer os cantos do manicómio - Eh, é aí onde os mortos construíram as suas cidades.
Mas os fogos não queriam ouvir porque não gostam de passar fome.
Por isso pedi aos lunáticos que saíssem do sótão e disse-lhes que era uma guerra de nutrição, e que deviam comer o fogo senão ele os comeria.
Mas eles disseram, nós não somos comedores de fogo, somos engolidores de espadas...
Russell Edson. O Túnel. Selecção e tradução de José Alberto Oliveira Assírio& Alvim, Lisboa, 2002, p. 19-21
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