quarta-feira, 27 de outubro de 2010

«A quem confiar as minhas alegrias e as minhas dores, as secretas paixões quixotescas da minha juventude, o violento choque, mais tarde, com Deus e os homens, e finalmente o orgulho selvagem da velhice que arde mas se recusa, até à morte, a transformar-se em cinza? A quem direi eu quantas vezes escorreguei e caí, ao escalar com os pés e mãos a encosta abrupta de Deus, quantas vezes voltei a erguer-me, coberto de sangue, para recomeçar a subir?Onde encontrar uma alma trespassada de mil golpes mais insubmissa, como a minha, para me confessar a ela?»
 
 
 
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 11

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