«O tradutor, como aponta Jeanne Marie Gagnebin no prefácio ao livro de Susana Lages, é justamente um mestre das passagens e dos intervalos, aquele que proporciona uma travessia entre as línguas, mas uma travessia que não exclui o carácter de impasse inerente a tal actividade. O tradutor é, então, um novo Ulisses, pois não pode entregar-se totalmente ao texto estrangeiro com o risco de tornar-se mudo, de sucumbir ao canto das sereias. Ele precisará manter-se nesse lugar tenso, em que ouve o canto, o chamado do exterior, mas continua agarrado ao mastro, à sua língua natal.
Assim, a tradução terá sempre que lidar com um carácter intervalar, representado por uma pura diferença, pressupondo, portanto, uma duplicidade e o enfrentamento de uma realidade que é absolutamente estranha, estrangeira, impossível de ser recuperada. Ao realizar a sua obra, enquanto tenta ultrapassar esse intervalo, o tradutor escava o abismo que separa, ao mesmo tempo em que aproxima, o original da tradução, e se, por um lado, algo da língua original se perde, por outro, a língua do tradutor também sofrerá modificações, como assinalamos anteriormente no caso da tradução do poema dos caxinauás. »
Assim, a tradução terá sempre que lidar com um carácter intervalar, representado por uma pura diferença, pressupondo, portanto, uma duplicidade e o enfrentamento de uma realidade que é absolutamente estranha, estrangeira, impossível de ser recuperada. Ao realizar a sua obra, enquanto tenta ultrapassar esse intervalo, o tradutor escava o abismo que separa, ao mesmo tempo em que aproxima, o original da tradução, e se, por um lado, algo da língua original se perde, por outro, a língua do tradutor também sofrerá modificações, como assinalamos anteriormente no caso da tradução do poema dos caxinauás. »
Izabela Guimarães Guerra Leal. Doze nós num poema: Herberto Helder e as vozes comunicantes.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008., pp.99-100
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