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sábado, 29 de agosto de 2015

«...Compreendi então que nunca mais
a poderia deixar quando me beijou
pela primeira vez e a sua boca sabia a
esperma ainda fresco»


Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 71


A LUA E MARILYN

(...)

«Gostaria de me encontrar depois contigo num dos
     manicómios desta cidade (há vários e vai ser
     difícil escolher)
Talvez nos pudéssemos dedicar aí a cultivar rosas
     amarelas e fragantes
nos jardins da nossa inconsistência.»


Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 63
DOUGLAS MORRISON
                   JAMES
                 1943-1971


cogumelos vermelhos com pintas brancas cresciam
       livremente sobre a sepultura
estava inchado mas os seus olhos perdidos algures no
       Pacífico
conservavam o mesmo brilho de sempre


Instalei-me o melhor que pude tinha chovido há
       pouco e a relva estava molhada


Premi o botão do gravador e
      fiz-lhe a primeira pergunta: - Jim
segundo a Agência Noticiosa do Paraíso ocorreram
      incidentes lamentáveis durante o teu último
      concerto
em Jerusalém
que te masturbaste freneticamente para cima da
      assistência enquanto entoavas um salmo do
      Antigo Testamento
-O espectador é um animal agonizante-
     comentou -
foi uma reacção contra o onanismo de Deus
-O que é a loucura Jim?
-É teres-te esquecido da mala de viagem no útero
        da tua mãe
e quereres voltar atrás para a recuperar
ou semeares arroz nas planícies dos teus olhos quando
       já não há lágrimas para chorar
Passei então a explorar
a sua infância em Melbourne na Florida os tempos
       do Whiskey a Go-Go em Los Angeles
as suas ligações mal conhecidas com o profeta Isaías
-Jim a como está o grama de marijuana no Paraíso?
-A um dólar e dez cents - disse ele.
-Jim uma última pergunta
Que sentido faz um poeta depois de morto? ... -
Não cheguei a ouvir a sua resposta porque entretanto
      acordei
estava deitado na minha cama os primeiros raios de
      sol penetravam como que a medo pelas frin-
      chas das persianas
um pássaro cantava no telhado




Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 51/2

«Eu sou a má consciência do meu século. Tenho a
cabeça cheia de ratos e não consigo ver-me livre
deles. Nenhum raticida (o trigo roxo inclusive) se
revelou ainda eficaz.»


Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 50

«A não ser que se tomem as devidas providências
dentro em breve será celebrada na catedral de S.
Marcos a primeira missa submarina para alguns
cardumes de peixes boquiabertos.»

Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 48
«& a visão da primeira bomba no céu de Hiroshima:
fez-me crescer momentâneamente a água na boca
assim como à milhares de apreciadores de cogumelos.»

Jorge de Sousa Braga. O POETA NU. Fenda Edições, 1991., p. 44
«Era quase tão bela como a Vénus de Milo. Um dia,
cortou os braços a sangue frio.

Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 36
Um tufão chamado Marilyn varreu recentemente uma
das ilhas do Japão, tendo deixado um rasto de inúme-
ros cabelos loiros presos nas árvores.



Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 32

HOMENAGEM AOS MORTOS DA GRANDE
           GUERRA


Uns caíram porque não tinham pernas
Outros caíram porque foram empurrados
Outros ainda caíram porque tinham que cair
Eu cheguei atrasado como sempre
(quase duas décadas depois)
e só tive tempo para enxugar os olhos


Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991., p. 21
DE MANHÃ VAMOS TODOS ACORDAR COM
         UMA PÉROLA NO CU


Jorge de Sousa Braga. O Poeta Nu. Fenda Edições, 1991.,

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