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domingo, 17 de fevereiro de 2013
Em cada instante ele morria e, no entanto não conseguia morrer.
«Uma dor infinita tinha expressão no cansaço e lassidão dos seus movimentos. Não estava morto, mas não era vivo, não era velho, mas também não era novo. A mim parecia-me ter centenas de milhares de anos, mas também me parecia que devia estar vivo eternamente, e eternamente morto-vivo. Em cada instante ele morria e, no entanto não conseguia morrer.»
Robert Walser. O passeio e outras histórias. Granito Editores e Livreiros, 1ª edição, Porto, 2001, p., 45
«Em que mundo estonteante vivemos, ou vamos viver, se a
comunidade, os cidadãos e a opinião pública não só admitem, mas, infelizmente,
ainda aplaudem abertamente o que ofende a sensibilidade requintada, o sentido do gosto, da beleza e
da mediania, o que se impõe de forma doentia e, dando-lhe um ar ridiculamente
acanalhado como que brada a mais de cem metros em redor, aos quatro ventos: ‘’Eu
sou fulano tal. Tenho tanto e tanto dinheiro e posso permitir-me dar nas vistas
com grosseria. É claro que, com as minhas exibições de fausto idiota, não passo
de um labrego e dum simplório sem sensibilidade; mas ninguém pode proibir-me de
ser grosseiro e presunçoso’’. Será que os caracteres dourados, brilhando e
refulgindo ao longe de forma ignóbil, mantêm alguma relação aceitável e
sinceramente plausível, ou algum laço de parentesco normal – com o pão? De modo
nenhum! Mas o que acontece é que a odiosa jactância e a ostentação já começaram
um pouco por toda a parte e, com uma
lamentável e terrível inundação, foram sempre acumulando progressos, arrastando
consigo a insensatez, a impureza e a tolice, espalhando-as pelos quatros cantos
do mundo, até que levaram na maré o meu honrado padeiro, corrompendo-lhe o bom
gosto que até então manifestara e minando a sua tradicional modéstia. Não
hesitaria em dar muito, em sacrificar mesmo o meu braço ou a minha perna
esquerda, se assim pudesse contribuir para recuperar o antigo e bom sentido da
probidade, a antiga e boa fragilidade, se pudesse devolver ao país e às pessoas
aquela modéstia e honradez que, com pesar de todos os que sinceramente se
importam, se perderam consideravelmente. Maldita seja a mórbida fantasia de se
querer parecer mais do que se é. »
Robert Walser. O passeio e outras histórias. Granito Editores e Livreiros, 1ª edição, Porto, 2001, p., 31/32
domingo, 27 de janeiro de 2013
«Ela queria deixá-lo, mas sentia compaixão por ele.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 113
«Tem de se ter sido mau, para se sentir vontade de ser bom. E tem de se ter tido uma vida desordenada, para se desejar pôr a sua vida em ordem. Portanto, ser ordenado leva à desordem, ser virtuoso leva ao vício, ser monocórdico leva à eloquência, ser mentiroso leva à sinceridade, os últimos são os primeiros e o mundo e a vida das nossas qualidades têm forma redonda (...)»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 112
sábado, 19 de janeiro de 2013
«Idiota», cochichou ela..
«Idiota», cochichou ela ao salteador num tom sibilante, e quem assim cochichou sofria da doença do orgulho e estava linda de morrer quando disse aquilo.
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
O orgulho é muitas vezes o nosso único refúgio, mas não devemos recorrer a ele.
«O orgulho é muitas vezes o nosso único refúgio, mas não devemos recorrer a ele. Devemos libertar-nos do nosso orgulho, porque não passa de uma prisão gradeada, devemos falar com os mais humildes e tornarmo-nos livres. »
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
Ai-ai!
«Enquanto iam andando, ela, felizmente - valha-nos isso -, falou de Rilke, mas esse conhecimento que ela tinha de Rilke jamais seria suficiente para fazer dela a noiva ideal. Ai-ai! E, no entanto...!
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 91
«Às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros saudáveis, travem um conhecimento mais estreito, também, com a literatura dita doentia, que vos transmitirá, decerto, uma cultura edificante. As pessoas saudáveis deveriam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com que mil raios, para que serve ser saudável? Simplesmente para, num determinado dia, morrer de boa saúde? Que diabo de destino mais desconsolador...!»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 81
«Ele assegurou-nos expressamente que te estava muito grato. Antes de te ter conhecido, nunca sentira necessidade de chorar, mas agora sabia como se sente uma pessoa que chora, a dor da alma parecia-lhe um paraíso. Durante muito tempo não percebemos o que ele queria dizer, mas ele devia saber bem o que nos dizia e a expressão do seu rosto mostrava que o que dizia era uma evidência inequívoca. Foste, afinal, um anjo para ele, conquanto não o tenhas sabido, e foste-o precisamente por essa razão. Um dia, negaste-lhe qualquer coisa, ou seja, recusaste-te ocasionalmente a aceder a um pedido dele, e ele então foi-se embora, mas logo regressou. Isto não deve ter tido uma especial importância. És para ele, pois, o amor para lá de todas as palavras, só que tu própria nunca o percebeste. Para todos nós é sempre incómodo que nos atribuam um alto significado, Preferimos ser amados de uma forma moderada. Gostamos todos mais da comodidade. Ninguém gosta que o outro o considere como que sagrado, porque isso o obriga a ser um modelo.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 79
«(...) adoro-a tanto, que estou a ponto de me despenhar nos abismos horrendos da loucura.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 62
«Todos nos atormentamos uns aos outros, porque todos nós somos, de certo modo, atormentados pela vida. Quando não nos sentimos bem é quando, na verdade, sentimos mais vontade de nos vingar. As pessoas vingam-se mais por causa de se sentirem mal do que por maldade, e é a sina de todos nós não estamos livres do mal.»
Robert Walser. O Salteador. Tradução de Leopoldina Almeida. Relógio D' Água, Lisboa, 2003., p. 60
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
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