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domingo, 26 de junho de 2011

Nocturnos

I

Lividez da noite sentida no que alcanço
dum mistério sensível nos teus charcos.
Porque me olhas com olhar parado?

Porque me possuis exterior impávida intangível?
Porque não vens beber na minha seiva
o que retarda a morte a que me condenei
num sonho de merecer o teu mistério?


Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 77

VOU DAS ANTÍTESES PARA O ABSOLUTO

Não expulsarei os deuses e os demónios
que discutem a posse da minha alma.
Quero pregar-me na cruz dos ventos
e descer-me depois na manhã calma.

Eles que pintem minha pintura essencial
com o sangue onde me exigem a dor da vida.
Que sejam deuses e demónios a justificar
a imortalidade a que estou prometida.



Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 71

RECOMPENSA

Despedaçada na vertente duma súplica
fiquei intacta. Silente. Absoluta.
Nos meus passos mais certos os vestígios.
Nos meus olhos mais límpidos as águas.
No meu corpo mais nitidez de lírio.
Recompensa bebida na fonte dum martírio.


Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 70

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A EXALTAÇÃO DA PELE

Hoje quero com a violência da dádiva interdita.
Sem lírios e sem lagos
e sem o gesto vago
desprendido da mão que um sonho agita.
Existe a seiva. Existe o instinto. E existo eu
suspensa de mundos cintilantes pelas veias
metade fêmea metade mar como as sereias.



Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 69
Só o fruto provado
e a serpente enroscada
na minha solidão.


Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 69
Serás a dor que se desloca
no pedido que a boca formula
à voz que na alma canta
e que nunca chega à garganta?



Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 48

quinta-feira, 23 de junho de 2011

XIV

    Andam palavras na noite
Cansadas de me chamar.
Trago os meus lábios salgados
E algas no paladar.

Eu sou um grande oceano
Que só fala a voz do mar!
Mas já sinto o mar cansado
De pedir o luar ao céu
Que a Noite não lhe quer dar!


Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 48
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