«Nos debates correntes, já se começaram a discernir sinais que apontam para um refreamento na solidariedade incondicional, como na seguinte nota sobre o papel dos «três sábios» [«three wise men], caso a epidemia ganhe uma dimensão mais catastrófica no Reino Unido:
Os pacientes do Serviço Nacional de Saúde poderão ver-lhes negado o acesso a cuidados de sáude vitais durante um surto grave de coronavírus na Grã-Bretanha se as unidades de cuidados intensivos continuarem a ter dificuldade em dar resposta, avisaram os médicos. De acordo com um denominado protocolo dos «três sábios», três consultores seniores serão forçados em cada hospital a tomar decisões relativas ao racionamento de materiais como ventiladores e camas, no caso de os hospitais serem inundados de pacientes.
Em que critérios se irão basear os «três sábios»? Sacrifício dos fracos e dos mais velhos? E não irá esta situação dar azo a uma enorme corrupção? Não indicarão estes procedimentos que nos estamos a preparar para adotar a lógica mais brutal da sobrevivência dos mais aptos?»
Slavoj Žižek. A Pandemia que Abalou o Mundo. Tradução de João Moita. Relógio D'Água Editores. Lisboa, 2020, p. 63/4