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sábado, 19 de abril de 2014
Com a outra mão, esmaga pensativamente o cigarro no prato da folha.
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 153
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« - Olá, mais linda.
-Vá bardamerda.
-Estava a pensar em ti.
-Largue-me mas é da mão, já lhe disse que sou uma senhora casada.
Há meses que isto é assim. Vez por outra, quando o corpo lhe amorna em solidões, Elias marca o número-mistério e entra em linha.
-Olha, vi-te ontem.
-Eu também, tem piada.
-Ias com o teu namorado.
-Ai que mentira. Qual deles?
-Aquele que te pregou o esquentamento.
-Ordinário.
Som de desligar. Elias, sempre de boca descaída, repete a marcação do número.
-Isso faz-se? Desligar ao querido?
-Já lhe disse que sou uma senhora casada.
-Então estás lavadinha por baixo.
-Ai toda, meu querido. Estou todinha. E tu? Sabes uma coisa, hoje não estou nada-nada para chatices.
-Nem eu. Estou doentinho. (Elias mira uma unha gigante.)
-Com quê, meu querido? Foram-te ao rabo?
-Mais ou menos.
-Logo vi, mas, sabes, com chantilly, filho, com chantilly.
-Costumas pôr chantilly, é?
-Sempre, filho. Com muitas natas. Olha vou desligar que o meu marido já chegou.
-Chama-o lá.
-O quê?
-Chama-o lá, o teu marido.
-O quê?
-Pergunta-lhe se o gajo quer uma ajuda.
-Ai, quer, querido, vem depressa. Sabes como é que eu estou? Olha, estou em cima da cama, que é assim no estilo de queen anne, mas, tu sabes, amor, tu já cá estiveste, não te lembras?
-Daquela vez em que te comi de gatas, atão não me lembro.
-Pois olha eu cá não.
-Lembras, pois.
-Comida de gatas? Adoro. Deves ter sido muito desajeitadinho para eu não me lembrar.
-Até estavas com um robe castanho transparente.
-Robe castanho deve ser confusão. A menina é muito prò moreno, o castanho não lhe cai bem. Não faz mal, foi como tu dizes.
-Tinhas umas ligas com argolas que davam cá um tilintar que nem queiras saber.
-Ah, foi de ligas?
- E agora como é que tu estás?
-Perdão?
-Agora como é que tu estás, minha puta.
-Ah, agora a puta está com o Sheik nas perninhas, o Sheik é o meu bassé.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 148-150
-Vá bardamerda.
-Estava a pensar em ti.
-Largue-me mas é da mão, já lhe disse que sou uma senhora casada.
Há meses que isto é assim. Vez por outra, quando o corpo lhe amorna em solidões, Elias marca o número-mistério e entra em linha.
-Olha, vi-te ontem.
-Eu também, tem piada.
-Ias com o teu namorado.
-Ai que mentira. Qual deles?
-Aquele que te pregou o esquentamento.
-Ordinário.
Som de desligar. Elias, sempre de boca descaída, repete a marcação do número.
-Isso faz-se? Desligar ao querido?
-Já lhe disse que sou uma senhora casada.
-Então estás lavadinha por baixo.
-Ai toda, meu querido. Estou todinha. E tu? Sabes uma coisa, hoje não estou nada-nada para chatices.
-Nem eu. Estou doentinho. (Elias mira uma unha gigante.)
-Com quê, meu querido? Foram-te ao rabo?
-Mais ou menos.
-Logo vi, mas, sabes, com chantilly, filho, com chantilly.
-Costumas pôr chantilly, é?
-Sempre, filho. Com muitas natas. Olha vou desligar que o meu marido já chegou.
-Chama-o lá.
-O quê?
-Chama-o lá, o teu marido.
-O quê?
-Pergunta-lhe se o gajo quer uma ajuda.
-Ai, quer, querido, vem depressa. Sabes como é que eu estou? Olha, estou em cima da cama, que é assim no estilo de queen anne, mas, tu sabes, amor, tu já cá estiveste, não te lembras?
-Daquela vez em que te comi de gatas, atão não me lembro.
-Pois olha eu cá não.
-Lembras, pois.
-Comida de gatas? Adoro. Deves ter sido muito desajeitadinho para eu não me lembrar.
-Até estavas com um robe castanho transparente.
-Robe castanho deve ser confusão. A menina é muito prò moreno, o castanho não lhe cai bem. Não faz mal, foi como tu dizes.
-Tinhas umas ligas com argolas que davam cá um tilintar que nem queiras saber.
-Ah, foi de ligas?
- E agora como é que tu estás?
-Perdão?
-Agora como é que tu estás, minha puta.
-Ah, agora a puta está com o Sheik nas perninhas, o Sheik é o meu bassé.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 148-150
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«Entram dois loucos mansos do hospital Miguel Bombarda, ali ao pé. Reconhecem-se pelas cabeças rapadas, pela palidez escaveirada e pela roupa de internados; as calças estão-lhe sempre curtas, mal chegam às canelas, e usam cordéis a fazerem de cinto. Os loucos mansos dão uma volta pelas mesas acenando com os dois dedos à frente da boca. Pedem cigarros.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 146
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E ria, o velhaco.
«Este velho da estátua era um dos seus fantasmas de menino, achava-o igual a um bruxo desdentado que havia em Elvas, um que chamavam o Esplérido e que tinha o corpo por dentro todo a bulir em lagartas. Não são lagartas, é sebo, sossegava-o o pai. Mas o Esplérido quando a garotada o espreitava à distância e de cara franzida, espremia as asas do nariz com duas unhas e começava a deitar pelos poros fios brancos como vermes retorcidos. E ria, o velhaco. Tinha o mesmo riso carcomido do velho de bronze.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 144
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«Pecador que me ignoras em breve te juntarás a mim e então é que eu me hei-de rir, Pax Tecum.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 143
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 143
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terça-feira, 1 de abril de 2014
«Quando as chamas sobem de mais os anjos dão a mão ao diabo.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 141
«Também, do mal o menos, entrou mudo e saiu calado.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 140
Quando o cadáver cheira a política até as moscas largam a asa
«Tendo em vistas o advogado dos brilhos, salienta que o homo politicus é um animal lixado de trabalhar porque tem padrinhos no céu e afilhados no inferno, para não falarmos no purgatório que é onde se junta a maralha dos conspiradores em part-time. Por estas e por outras é que: Quando o cadáver cheira a política até as moscas largam a asa, como se costuma dizer, e muito bem, aqui o nosso chefe Santana.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 138
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 138
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«(...) tufos de pêlos irrompem-lhe das axilas. Debruçado nas costas da cadeira o polícia estuda-a com olhos de míope.
Mena. Os braços erguidos alteiam-lhe os seios que parecem soltos e estão mesmo (sem soutien, pela maneira de descair do pull-over) e os pêlos do sovaco são dum negro seco e agreste, tão negro como é decerto todo o cabelo que ela tem no mais privado do corpo e com um gosto acidulado, retenso. O chefe de brigada tira um limpa-unhas do bolso num movimento paciente.
Silêncio. O silêncio do preso é a insónia do polícia, aguardemos.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 128
Abril
«Vizinha da morte estava ela, vizinha como nunca; uma mulher paredes meias com a morte e com o sangue. Mas durante este tempo, todos os dias uma criada lhe fazia chegar ao quarto três das mais belas rosas desse Abril.»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 128
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 128
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domingo, 30 de março de 2014
«Contornava-me, cingia-me com um braço e procurava-me as coxas e as nádegas por baixo da roupa. Eu própria levantei o vestido, colando-me mais a ele, e imagina a surpresa que o tomou quando sentiu nos dedos a verdade do meu ventre!»
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 122
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 122
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José Cardoso Pires
«E de súbito calou-se e pôs os olhos nos meus com uma dureza terrível. Suportei-os.
José Cardoso Pires. Balada da Praia dos Cães. 2ª Edição, 1982. Edições «O Jornal», Lisboa., p. 122
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