segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 O homem que fugiu

fugiu da lei
que estrada o vestiu
não sei

Acredito que era
o gémeo
de um pássaro alerta
com a cabeça
a prémio

O homem que fugiu
é meu
se alguém o pariu
devo ter sido
eu
sua amante-mãe
mulher
que inventa o que ele vê
e o fere

O homem que fugiu
ganhou ao jogo
a mão incrustada
com que rouba
o fogo
e vos rasga o sono
em tiras
para que não sonheis
mentiras”


Luiza Neto Jorge, in Poesia, 1960-1989

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