«Não sei o que sou, nem o que faço, nem o que quero; estou despedaçada por
mil sentimentos contrários. Pode imaginar-se estado mais deplorável? Amo-te
de tal maneira que nem ouso sequer desejar que venhas a ser perturbado por
igual arrebatamento. Matar-me-ia ou, se o não fizesse, morreria desesperada,
se viesse a ter a certeza que nunca mais tinhas descanso, que tudo te era
odioso, e a tua vida não era mais que perturbação, desespero e pranto. Se não
consigo já suportar o meu próprio mal, como poderia ainda com o teu, a que
sou mil vezes mais sensível? Contudo, não me resolvo a desejar que não
penses em mim; e confesso ter ciúmes terríveis de tudo o que em França te dá
gosto e alegria, e impressiona o teu coração.»
Sóror Mariana Alcoforado; "Cartas Portuguesas". Europa-América, 1974.
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