«Estou convencida de que talvez encontrasse aqui um amante melhor e mais
fiel; mas ai!, quem me poderá ter amor? Conseguirá a paixão de outro homem
absorver-me? Que poder teve a minha sobre si? Não sei eu por experiência
que um coração enternecido nunca mais esquece quem lhe revelou prazeres
que não conhecia, e de que era suscetível?, que todos os seus impulsos estão
ligados ao ídolo que criou? que os seus primeiros pensamentos e primeiras
feridas não podem curar-se nem apagar-se?, que todas as paixões que se
oferecem como auxílio, e se esforçam por o encher e apaziguar, lhe prometem
em vão um sentimento que não voltará a encontrar? , que todas as distrações
que procura, sem nenhuma vontade de as encontrar, apenas servem para o
convencer que nada ama tanto como a lembrança do seu sofrimento? Porque
me deu a conhecer a imperfeição e o desencanto de uma afeição que não deve
durar eternamente, e a amargura que acompanha um amor violento, quando
não é correspondido? E porque razão, uma cega inclinação e um cruel
destino, persistem quase sempre em prender-nos àqueles que só a outros são
sensíveis?»
Sóror Mariana Alcoforado; "Cartas Portuguesas". Europa-América, 1974.
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