sexta-feira, 29 de novembro de 2019

''(...)para Han, o estado de esgotamento na sociedade atual não provém desse tipo de potência, mas do excesso de positividade (leia-se: estímulos). A leitura de 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono pode ratificar o sentido da experiência social analisado por Byung-Chul Han. Nesse livro, o professor de história da arte Jonathan Crary (2016) evidencia de que forma a presença constante de estímulos tende a impedir o desligamento do indivíduo, que dorme hoje em sleep mode. Inspirada nas máquinas, essa expressão recorrente e apenas aparentemente inócua dá a ver a ideia de que o indivíduo está em “modo de consumo reduzido”, à disposição, superando a lógica “desligado/ligado”, “de maneira que nada está de fato ‘desligado’ e nunca há um estado real de repouso” (Crary, 2016, pp. 22-23). Trazendo à tona projetos científicos, tecnológicos e laboratoriais cujo objetivo consiste em reduzir ou eliminar o sono, o norte-americano mostra que tais empreendimentos – supostamente inacreditáveis – são consonantes à cultura moderna ocidental que deprecia o sono desde a estimação positiva de conceitos e valores como produtividade, racionalidade, consciência, vontade, objetividade, ação, desempenho. Na cultura ocidental contemporânea “24/7”, na qual impera o regime de trabalho non-stop, o sono se apresenta como a única dimensão existencial ainda não colonizada pelo capitalismo.''

Han, Byung-Chul

Sem comentários:

Enviar um comentário

Powered By Blogger