«Fujo sempre à narração daquela noite. Estava tão quente que, apesar de detestares os morcegos, tínhamos as persianas abertas. Embora soubéssemos que era o agitar das folhas da tília no muro da casa, parecia-nos ouvir alguém respirar ao fundo do quarto. Às vezes, o vento imitava o barulho de um aguaceiro a cair sobre a folhagem. A Lua, quase a desaparecer, iluminava o chão e os pálidos fantasmas da nossa roupa espalhada pelo quarto. Já não se ouvia o murmúrio dos prados. Tudo era silêncio.
Tu dizias: «Vamos dormir...É preciso dormir...» Contudo, uma sombra rondava a nossa lassidão. Não vínhamos sozinhos do fundo do abismo. Logo que eu te apertava nos meus braços, acordava no teu coração esse Rodolfo desconhecido.»
François Mauriac. O Nó de Víboras. Tradução de Maria Conceição Ramírez Cordeiro. Livros de bolso europa-américa., p. 31