quarta-feira, 23 de março de 2011

22.

Vós lábios meus quereis cicatrizar
sem cura e ficar mudos? rubras feridas
como de espadas já não são tingidas
Deixai me lance à espada E de brotar

hão-de cessar as queixas desmedidas
da boca que há-de o amigo apropriar
desesperou na morte o silenciar
aliei a seu ser dores incontidas

Não sem que tardo alvor maduro a breve
juventude dos anos lhe transborde
e da hora mortal fadiga leve

se dela sangra o mundo em rubro acorde
A golfada das dores já me sossega
e é mar liso que espelha a alba que chega


Os Sonetos de Walter Benjamin. Tradução de Vasco Graça Moura. Campo das Letras, 1999, p.37

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